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Protesto em Ferguson, novembro de 2014. |
Entreguei há quinze dias à Editora Nova Alexandria o original de O jovem Malcolm X, romance-biografia cuja conclusão me ocupou este ano de 2014.
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Protesto em Ferguson, novembro de 2014. |
Foto com alunos do Colégio Eco, na Lapa de baixo, São Paul - SP. |
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O grande técnico da seleção de 1970 João Saldanha. |
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A corajosa Therezinha Zerbini. |
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Leci Brandão com o livro O jovem Mandela. |
Escrevi este texto há anos para meus alunos de
Metodologia Científica, quando lecionei para Ensino Superior. Foi bastante útil
durante o curso, pois introduzir os jovens em práticas muitas vezes distantes
de seu cotidiano necessitava de uma sessão de desmistificação da ciência.
Descobrir coisas novas, desvendar segredos, encontrar saídas
para labirintos e respostas para quebra-cabeças, qual criança não gosta? Os
brinquedos e brincadeiras vivem de propor desafios que, superados, tornam-se
grandes conquistas e aquisições cognitivas: o mais inocente jogo de amarelinhas
tem regras e complicações que exigem estudo, aprendizagem, reflexão e ação. E
criança nenhuma se dispensa de brincar em razão da dificuldade inicial que uma
brincadeira ou jogo apresenta.
Então por que, muitas vezes, é tão comum encontrarmos
pessoas que dizem detestar o estudo?
Bem, a brincadeira mais interessante pode se tornar
tediosa se não soubermos suas regras. Aliás, nossas simpatias e antipatias
infantis em relação a esta ou aquela brincadeira estão geralmente relacionadas
às dificuldades que não conseguimos superar e que, ao resultarem em seguidas
frustrações, causam mal-estar e sentimento de fracasso. Porém, as mesmas coisas
que nos causaram frustração, se enfrentadas corretamente, causam uma grata
sensação de vitória, realização e plenitude.
Quer na brincadeira mais aparentemente inocente, quer na
atividade de estudo, o “como” é decisivo.
Se desconhecemos as regras de um jogo ou brincadeira, mas
sabemos “como” encarar gradualmente as dificuldades, a aprendizagem, que faz
parte do próprio jogo ou brincadeira, torna-se puro prazer.
Quando alguém diz “detesto estudar”, na verdade devemos
ouvir: “detesto sofrer”. Com efeito, há poucas atividades mais insalubres
e enfadonhas do que estudar sem se saber “como”: os segredos se fecham, os
desafios se tornam intransponíveis, as tarefas irrealizáveis, a sensação de perda
de tempo toma o espírito e o mais comum de se ver, particularmente em crianças
e adolescentes – e mesmo jovens –, é eles, mal orientados, dormirem sobre os
cadernos ou chorarem sobre eles lágrimas desoladas de derrota.
Mas estudar não precisa e não deve ser assim. Entre o
conhecimento que desejamos apreender e o nosso espírito há o “como”. Se não
dominamos o “como”, não chegamos nunca aos “porquês”: se sabemos como
multiplicar, resolver uma multiplicação pode ser até uma atividade lúdica – a
depender do “como”.
E o que se disse aqui sobre crianças, adolescentes e jovens
vale para o universitário, que, muitas vezes privado do “como”, lista um rol
considerável de restrições contra uma disciplina, um professor, uma escola: é a
sensação de fracasso que se transmuta e se torna revolta, é o claro sentimento
de que se tem tudo para compreender e resolver um problema e, no entanto, não
se consegue encontrar a ponta do liame que, seguido, leva à saída do labirinto.
Existe um vício na atividade escolar que cabe corrigir: o
de que passar os olhos sobre um texto ou lê-lo várias vezes constitua forma
eficaz de aprendizagem. Nada mais enganador.
Em primeiro lugar porque passar os olhos sobre um texto
não é o suficiente para se apreender os problemas que ele propõe: leitura
superficiais não levam à satisfação do espírito, mas denotam preguiça, inimiga
mortal de toda atividade de sucesso.
Em segundo lugar porque, se ler muitas vezes o mesmo
texto linearmente, com baixa compreensão, não denota preguiça – muito pelo contrário – , denota falta de
habilidade e de método. E o que é método? É o famoso “como”.
Antes de tudo, é necessário saber encontrar o texto que
desejamos. Quando temos um objetivo a atingir, não podemos nos permitir o luxo
de desperdiçar tempo.
Se temos um assunto, tema ou problema a tratar, não
podemos apanhar um livro na estante da biblioteca, empregar uma, duas horas de
leitura só para então descobrir que o livro, muitas vezes até importante, nada
tem a ver com que estamos necessitando naquele momento.
Quando temos definido o que precisamos encontrar,
selecionamos os livros pelo assunto em questão, o que elimina a possibilidade
de perdermos tempo com obras totalmente fora da nossa área de interesse. Após
isso, devemos ler com atenção as informações constantes na capa e contracapa.
Obras acadêmicas costumam ter um prefácio, ou apresentação, que resume o que o
livro contém, devem também ser lidas.
Se capa, contracapa e apresentação revelaram que o livro
pode conter algo de interesse, é hora de consultar o sumário, ou índice, pois é
nele que constam os assuntos de que o livro trata.
Suponhamos que haja algo que interesse... devemos ler o
livro todo? Não: vamos direto ao capítulo que nos interessa. Se ele for
realmente útil para aquela necessidade, devemos realizar uma primeira leitura,
com calma e despidos do mito de que uma leitura “dinâmica” resolva: devemos ter
ao lado um bom dicionário, isto sim é que resolve, embora não tudo. Consultar a
internet também resolve, desde que sejam acessados sites confiáveis.
Nessa primeira leitura devemos marcar a lápis (se o livro
for nosso), ou anotar num papel, todas as dificuldades de vocabulário, quer
precisam ser solucionadas, bem como as ideias que vão surgindo durante a
leitura, relacionadas ou não a ela (às vezes uma ideia boa surge deslocada, se
a registramos, pode ser útil em outra oportunidade). Palavra mal compreendida
significa erro garantido no futuro, e ideias não apontadas fogem e não voltam
mais.
Realizada essa primeira leitura de estudo, que é muito
diferente de uma leitura sem compromisso, precisamos marcar no texto trechos
importantes, que resumem conceitos ou esclarecem pontos importantes. Essa marcação
pode ser realizada a lápis, se o livro for nosso, repito, pois marcar livro de
outra pessoa ou de biblioteca demonstra, além de desrespeito e descortesia,
imensa inabilidade para com a atividade de pesquisa.
Não devemos marcar palavras isoladas, mas orações ou
trechos de parágrafos na ordem linear de leitura, de modo que um trecho
marcado forme uma sequência lógica com o trecho anterior e com o posterior.
Depois de marcados esses trechos, convém lê-los em sequência;
quanto maior a habilidade do leitor, mais coerente é a sequência das anotações.
Essa sequência enxuta de trechos destacados é o chamado resumo técnico.
Antigamente esses trechos destacados eram transcritos
para fichas de cartolina e organizadas em pequenos fichários por ordem
alfabética de citação de fonte bibliográfica (que deve constar no topo de cada
ficha). Hoje, eles vão direto para o computador (há programa de fichários eletrônicos,
mas um editor de texto já dá ótimo resultado). De posse desse material, é hora
de conversar com os colegas e com o professor sobre essa atividade e sobre o
que foi coletado: é nesse momento que o processo de aquisição cognitiva se
torna mais rico, pois haverá quem tenha escolhido outros trechos com maior ou
menor felicidade, haverá quem tenha compreendido coisa diversa acerca do mesmo
conceito, haverá concordâncias e discordâncias que só serão frutíferas se forem
discutidas.
Os trechos fichados ou arquivados no computador são
fontes para citação em futuros trabalhos e podem dar origem a resumos muito
consistentes, que, por sua vez, ampliados, vertidos para a linguagem do próprio
estudante e acrescido de suas reflexões e opiniões, tornam-se resenhas
com forte apoio no texto original.
Durante o Ensino Médio e mesmo a Graduação, se o
estudante for diligente e criterioso, esforçando-se sempre por produzir esse
material a cada leitura, ou pelo menos em relação àquelas mais requisitadas
pelos professores, ao final de um ano terá um excelente arquivo. Aliás, muitos
professores, entre os quais eu me incluo, atentos para a importância desse
material, atribuem conceitos a ele e o elevam à categoria de avaliação, pois um
fichamento bem feito revela domínio do “como” estudar, ou seja, do método
acadêmico.
* * *
Para um estudante não pode haver prazer maior do que se
sentir capaz de navegar por conta própria pelo mundo do conhecimento, guardado
no segredo dos livros e das bibliotecas – e da internet.
É lógico que é trabalhoso ler, marcar, anotar, apontar,
fichar, resumir e resenhar textos, mas quem sabe fazer isso, transforma o “não
me sinto capaz” pelo “professor, preciso de mais tempo para fazer isso”. Ou seja,
o estudante, consciente de suas habilidades e das dimensões das tarefas, traduz
em tempo de trabalho quantificável, maior ou menor, as dificuldades que
enfrentará, e o impossível torna-se possível, em curto, médio ou longo prazo.
Não há mais o “não consigo realizar”, mas o “consigo, em um tempo que preciso calcular”.
Há muita mistificação em relação ao mundo do saber. Uma
delas é a de que se tem de ser gênio, ou “nerd”, para ser estudioso. Ora, os
gênios existem, mas se dependesse exclusivamente deles o homem ainda estaria
nas cavernas. A maior parte do saber é produzido com trabalho humilde,
paciente, persistente, cuidadoso, que é acumulado por anos, séculos, milênios.
Na vida escolar ou acadêmica, isso se traduz em método
para pesquisar, arquivar informações, acumular organizadamente conhecimentos de
modo a serem facilmente acessados, debater com colegas e professores, em
resumo, trabalho intelectual organizado, disciplinado.
Nestes anos de docência para o para a Educação Básica e
para o Ensino Superior, tenho assistido à bonita sensação de realização no
comportamento de estudantes quando aprendem penetrar nos segredos dos livros e
textos a partir de métodos simples de estudo. É como ver uma criança dar, por
conta própria, os primeiros passos, que tão decisivos para sua vida.
Aqui cabe a comparação: quando aprende a andar por conta
própria, uma criança não necessita mais de um adulto que a ensine a andar,
tanto quanto um aluno, quando aprende a estudar, torna-se estudante – e há uma
radical diferença entre um e outro: o primeiro ainda não é livre, depende
eternamente do professor; o segundo não, torna-se seu próprio mestre. Talvez por
isso a canção de Milton Nascimento e Wagner Tiso se chame Coração de Estudante, e não Coração de Aluno.
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Fonte: Revista Bula |
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Foto: Júlio Boaro |
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http://www.almanack.paulistano.nom.br/antartica14.html |
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Edifício São Vito, São Paulo, popular Treme-Treme, cuja demolição terminou em 2011. À direta, ao fundo, o Mercado Municipal. |
Bar Saci
Além das apresentações artísticas, o espaço conta com um bar, o Bar Saci. Coordenado pela Associação Vida em Ação, esse bar tem o objetivo de buscar alternativas de geração de trabalho e renda para os usuários dos serviços públicos de saúde mental, e também de fomentar ações de apoio ao tratamento.
As datas de todos os encontros deste ano já estão marcadas e os próximos acontecerão nos dias 8 de março, 12 de abril, 17 de maio, 14 de junho e 12 de julho. Os trabalhos apresentados em todos os encontros serão avaliados tecnicamente pelos artistas coordenadores e os selecionados serão convidados para o sarau do dia 16 de agosto, quando acontecerá o ensaio para a apresentação final, no dia 13 setembro, que será no NEC - Núcleo Educacional de Caieiras, gentilmente cedido pela Secretaria Municipal de Educação. No total serão oito saraus. Haverá na semana da apresentação final uma exposição pública dos poemas e fotos selecionados.
Os encontros do Sarau Cultural de Caieiras são mensais e acontecem sempre aos sábados no Espaço Cultural Porco à pá (Pourquoi pas?), que fica na avenida Olindo Dártora, 4560, Morro Grande, Caieiras, SP.
O João estava certo em me convidar, pois foi uma noite muito bacana. Além de declamações de poemas e bate-papo/entrevista sobre a linguagem poética, houve improvisos de sax da melhor qualidade, interpretações de MPB, teatro e muito compartilhamento.
Tem havido uma mobilização espontânea e em grande quantidade em torno da literatura na capital e na Grande São Paulo. É animador saber que, por todo lado, as pessoas, das mais diversas idades (grupos de jovens, grupos de idosos, grupos mistos, de professores, de profissionais diversos) tem-se se organizado para ler trechos de clássicos da literatura ou de novos autores, para declamar Bandeira ou Drummond, mas também poemas de autoria própria.
Tenho estado exausto, de tantos lugares aos quais tenho sido convidado a falar ou a ouvir (ou ambos). A caminho de Caieira, dois amigos me ligaram no celular: um, para avisar de uma apresentação nesta semana, outro, para me lembrar que estava sendo lançado, naquele exato momento, na Penha, um livro de autores da Zona Leste (como não era possível minha ida, fui informado que o mesmo livro será lançado em Ermelino Matarazzo no final do mês).
Minha gente, a cidade e a grande São Paulo está pulsando! E é pulsação do bem!
Jeosafá Fernandez Gonçalves é Doutor em Letras pela USP e Pós-Doutor em História pela mesma Universidade. Escritor e professor, lecionou para a Educação Básica e para o Ensino Superior privados. Foi da equipe do 1o. ENEM, em 1998, e membro da banca de redação desse Exame em anos posteriores. Compôs também bancas de correção das redações da FUVEST nas décadas de 1990 e 2000. Foi consultor da Fundação Carlos Vanzolini da USP, na área de Currículo e nos programas Apoio ao Saber e Leituras do Professor da Secretaria de Educação de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, entre os quais Carolina Maria de Jesus: uma biografia romanceada, O jovem Mandela, O jovem Malcolm X (Editora Nova Alexandria); O espelho de Machado de Assis em HQ, A lenda do belo Pecopin e da bela Bauldour, tradução do francês e adaptação para HQ do clássico de Victor Hugo (Mercuryo Jovem).