segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Sombra de passeio de inverno

Nem em meu mais alucinado pesadelo delirei que um dia o cine Metrópole ia fechar. Era uma tarde-noite de domingo de início dos anos 80 e, em meio ao chuvisco que não molhava mas picava o rosto, com as mãos nos bolsos girando moedinhas, eu andava pela praça Dom José Gaspar, sedento para ver um filme naquela sala escura onde se sonha de olhos abertos — o comércio todo fechado, salvo um mísero café bem próximo da galeria. Era o final da tarde, mas a iluminação pública já funcionava porque fazia escuro. Minha sombra dobrou-se, metade no chão, metade na parede de um edifício. Entrei no café, pedi um bem forte, que tomei apressado, fiz o poema num guardanapo, que enfiei no bolso já sem as moedinhas, e fui ver um filme. O filme, nem me lembro qual, o cine Metrópole se foi, já a lembrança daquela tarde e o poema ficaram... aqui e no coração.


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