Mostrando postagens com marcador Ditadura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ditadura. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Ditadura relativa e negacionismos - Marcos Silva

Ditatura relativa e negacionismos, do prof. Marcos Silva, da Universidade de São Paulo, realiza um minucioso raio X das leituras do jornalista Elio Gaspari e do prof. Marcos Napolitano sobre a ditadura militar brasileira.

Quanto ao primeiro, o prof. Marcos Silva, com sua linguagem elegante, analisa de que perspectiva Elio Gaspari tece sua narrativa de jornalismo retrospectivo, tomada por mais de um desavisado como obra historiográfica.

Ao desmistificar as fontes documentais usadas pelo jornalista para redigir sua obra monumental (ao feitio das obras faraônicas do período Médici), Marcos Silva deslinda a parcialidade de Elio Gaspari, mal disfarçada pela linguagem escorreita que caracteriza a escrita encomiástica da ditadura. O ponto de vista de que o jornalista fala é o do escriba de Castelo Branco, Geisel e Golbery do Couto e Silva - o primeiro, tratado como militar culto e bem intencionado; o segundo, como estadista racional e adversário dos porões da mesma ditadura que ele comandava; e o terceiro, como mago a idealizar, preparar, conceber e  propiciar o fim de uma ditadura da qual participou desde o primeiro momento e à qual serviu como ministro dos diversos ditadores que se sucederam desde o infausto 1o. de abril de 1964.

Em sua crítica à obra, Marcos Silva observa como, para Elio Gaspari, a história comparece como um alinhavo de eventos desencadeados por pessoas ilustres e comandados por figuras proeminentes, quando não notáveis, caso dos três militares acima citados. O conflito entre classes sociais passa longe da coleção de 5 volumes (A ditadura envergonhada, A ditadura escancarada, A ditadura encurralada, A ditadura derrotada, A ditadura acabada), e os movimentos de resistência à ditadura, quando abordados, servem de pano de fundo, à moda de cenário desfocado propositalmente para que holofotes sejam projetados sobre os atores principais.

Os títulos das obras se figuram, assim, após a leitura do livro do prof. Marcos Silva, no mínimo ambíguos, quando não cínicos, em relação ao texto: ditadura, sim; mas haveria ditadores bem intencionados, cultos e avessos a radicalismos de ambos os lados do conflito que ensejou a "revolução redentora'.

Quanto ao livro 1964: História do regime militar brasileiro, do prof. Marcos Napolitano, Marcos Silva analisa a obra do ponto de vista de um colega de ofício, e por isso aponta criticamente o que entendeu serem às vezes insuficiências, às vezes descuido, às vezes erro metodológico — mas há espaço também para a saudável divergência teórica, relacionada às linhas no campo da história que caracterizam a identidade intelectual e política de ambos os professores.

Marcos Napolitano oferece sua perspectiva teórica ao leitor já no título de sua obra em destaque — e começa já aí a crítica de Marcos Silva, uma vez que "regime" e "ditadura" têm denotações e conotações muitíssimo diversas. Para Marcos Silva, o título é, quando menos, um eufemismo (isso digo eu, que escrevo esta resenha).

Também aqui Marcos Silva observa na narrativa de Marcos Napolitano um certo papel secundário reservado às classes e grupos sociais resistentes à ditadura, em meio a certas imprecisões no detalhamento de conceitos trabalhados no livro, mas que se prestam a questionamento teórico sempre (o que é a classe média? o que é periferia? haveria classe média em periferias geográficas? o centro geográfico de uma metrópole comporta periferias?).

Nas duas obras o prof. Marcos Silva apresenta com farta argumentação elementos que se prestam à relativização da ditadura e à negação de suas consequências na vida do país - consequência que, demonstra Marcos Silva, apontam para a permanência de fortes elementos da ditadura até os dias atuais, a exemplo do golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e do atual governo, abertamente apologista da tortura, do assassinado de opositores e da própria ditadura, a qual reinstaurará caso a correlação de forças na sociedade o permita — isto dito por último, também, o afirmo eu, que escrevo esta resenha, com o que, no entanto, me permito supor, o prof. Marcos Silva talvez concordará. 

Maria Antônia Edições
Número de páginas: 160
Dimensões:12,5 x 21 cm
Peso: 212 gr.

Jeosafá Fernandez Gonçalves é Doutor em Letras pela USP E Pesquisador Colaborador do Departamento de História da mesma Universidade. Escritor e professor mesma Universidade, lecionou para a Educação Básica e para o Ensino Superior privados. Foi da equipe do 1o. ENEM, em 1998, e membro da banca de redação desse Exame em anos posteriores. Compôs também bancas de correção das redações da FUVEST nas décadas de 1990 e 2000. Foi consultor da Fundação Carlos Vanzolini da USP, na área de Currículo e nos programas Apoio ao Saber e Leituras do Professor da Secretaria de Educação de São Paulo.  Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, entre os quais O jovem Mandela (Editora Nova Alexandria); O jovem Malcolm X, A lenda do belo Pecopin e da bela Bauldour, tradução do francês e adaptação para HQ do clássico de Victor Hugo (Mercuryo Jovem).

domingo, 11 de outubro de 2015

1979 foi um ano difícil

Liberdade: a palavra mais linda do dicionário.

Eu terminara o ano de 1978 como um dos melhores alunos na minha turma, o que não acrescenta muito a meu currículo, pois a minha turma da 8ª. série do noturno era a mais largada do colégio. Não que fôssemos maus, apenas tínhamos decidido dificultar a vida de professores, inspetores e diretor substituto. Por causa de quê? Por causa de terem naquele ano tido a brilhante ideia de formar turmas separadas de meninos e meninas.

Na verdade, muitos já eram barbados – não eu –  e, tendo repetido alguns anos consecutivos do Ensino Fundamental – não eu –, traziam consigo o estigma de completos debochados, o rei deles, Nivaldo Moura, cover narigudo e bocudo de Mick Jagger, nos sentidos literal e figurado, respectivamente.

Esse descendente de libaneses, hilário e orgulhoso de seu nariz característico, tirando a camisa, girando-a sobre a cabeça e pisoteando sobre a mesa da professora de inglês, a saudava no início de suas aulas aos berros afinados: “I can’t get no!,” para nossa resposta em coro, também eu: Satisfaction!

A professora Gema, "apavorada" mas risonha, trancada do lado fora da sala, olhando do corredor pela janelinha de vidro da porta, punha o dedo sobre o nariz "implorando" silêncio e espremendo os olhinhos cúmplices.

Nunca é demais enfatizar, para que não restem dúvidas, embora nossa 8ª Série B do período noturno fosse tudo o que diziam de nós e um pouco mais: eu conseguia ser dos melhores alunos da turma, inclusive nas notas. Tanto que quando o diretor queria provas da bagunça na sala (eu era o “monitor”), me chamava à sua sala:

– Senhor monitor, vocês estavam cantando aquela música infame novamente?

– Não, seu Nelson, a inspetora Laura é que nos detesta e vem fazer intriga para o senhor.

Porém, 1978 acabou, e nem eu nem minha mãe sabíamos que era necessária a inscrição para o vestibulinho de ingresso no Ensino Médio no único colégio da região que o oferecia. Então, dei, da alegria e da extroversão do último ano no Maria Montessori, no nada – sim, pois nunca me imaginara fora da escola; sequer sabia que havia vida inteligente para fora dos muros do Maria Montessori.

No início de 1979, embora já tivesse trabalhado em metalúrgica e loja de passarinhos no ano anterior, entendi o que era a vida de trabalhador: arrumei emprego de office-boy em uma empresa de publicidade (Marplan, divisão de pesquisa da McCann Erickson), na rua Sete de Abril e, do quarto andar do prédio do falido Diários Associados, de Assis Chateaubriand, assisti aos enfrentamentos entre bancários em greve e a cavalaria da Polícia Militar.

Uma ocasião, indo buscar o malote na matriz, que ficava no início da rua da Consolação, esquina com a Martins Fontes, no retorno, tive de pedir licença aos policiais, todos paramentados com coletes a prova de bala e escudos transparentes, armas e cacetetes prestes, como em filmes de ficção científica, para atravessar a praça D. José Gaspar.

Quando cruzei o cordão dos militares, ingressei no maior vácuo de toda minha vida até então, pois, cem metros à minha frente, perfilavam os bancários, os braços dados, numa corrente humana compacta e disposta. Entre a tropa de choque e em direção dos trabalhadores, boiava,  quase à deriva, um office-boy de pouco mais de um metro e cinquenta, com um malote de cartas às costas e o maior silêncio do mundo nos ouvidos. Os bancários abriram uma brecha e me deixaram passar.

Ao chegar ao quarto andar do edifício da Sete de Abril, só tive tempo de entregar a mala de lona verde cheia de correspondências na expedição e correr para a janela. Embaixo, a guerra já estourara, com explosão de bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, com cavalarianos a espremer contra as paredes dos prédios grupos de manifestantes que, com pedras das obras do Metrô à disposição, faziam-nas assobiar contra os militares, estes enfiados em suas armaduras de Darth Vader.

Do alto, choviam objetos sobre os policiais. Fui à expedição, apanhei um cesto de lixo cheio de papéis borrados de tinta de mimeógrafo, voltei à minha janela e, no momento de atirá-lo sobre os policiais, fiquei com pena dos coitados e só atirei o conteúdo do cesto. Até hoje eles devem achar que suas pancadas contra os manifestantes foram saudadas por alguém lá de cima com uma chuva de papéis picados.

O fato é que, amigo da massa de office-boys que os bancos contratavam na época, acabei aderindo às suas passeatas que, assim como se juntavam, desapareciam, pois conhecíamos todas as galerias do centro velho de São Paulo, então era fácil para nós armarmos uma confusão e desaparecer na multidão. Para mim, nossa revolta infantojuvenil soava como os gritos de guerra do nosso líder de esbórnia, o impagável Nivaldo Moura, o nosso hilário Mick Jagger ladrão de oxigênio: “– I can’t get no!” ... “– Satisfaction!”.

No fim desse ano difícil, em que eu ficava à noite em casa chutando bola na parede de uma construção mal iniciada que meu pai mantinha no quintal, até me esgotar, para esquecer que estava fora da escola, prestei o vestibulinho, passei e, enfim, combinei comigo que esse fora meu rito de passagem.

No início de 1980, ao fazer a matrícula, já me incorporei ao piquete de alunos que faziam protesto contra o pagamento "obrigatório" da taxa da APM (Associação de Pais e Mestres). Por um deles, o Luís Randolfo, fui levado até o guichê. Lá ele fez um discurso contra a ilegalidade da obrigatoriedade, a moça da secretaria fez minha matrícula sem se chocar com ele e me preveniu: fique longe desses baderneiros – por Deus! Estou junto deles até hoje, quando os cabelos no topo da cabeça já me escasseiam e há mais fios brancos do que escuros em minha barba.

Ainda em 1980, participei de uma passeata de office-boys na avenida Paulista, onde então trabalhava, no número 1499, 15º andar, esquina com a alameda Casa Branca, sítio onde anos antes fora assassinado Carlos Marighela — por essa coincidência, ganhei de um dos membros do Centro Cívico uma biografia clandestina do “inimigo número 1 da ditadura”, com a qual desfilava pelos corredores da empresa em total inocênciaDa janela, vi a passeata, que não chegava a quarenta pernas, vindo do Trianon.

Fiz um cartaz com o fundo de uma caixa de sapatos na sala dos vendedores de trigo do Moinho São Jorge. Lembro o que escrevi com giz de cera, vermelho, emprestado à esconsa pela secretária do diretor comercial, um gaúcho que torcia pelo Internacional, única simpatia que eu nutria por ele: “Liberdade” – palavra que sempre achei das mais lindas do dicionário.

Desci correndo as escadas, pois os elevadores demoravam, a tempo de pôr mais duas pernas na desmilinguida manifestação. Antes de chegar à alameda Campinas, já tínhamos nos dispersado nas lanchonetes para comer misto quente, o sanduíche campeão dos office-boys.

Muitos anos depois, quando li 1933 foi um ano ruim, de John Fante, entendi cada vírgula do que ele escrevera sobre o fundo do poço da crise de 29 nos EUA. O 1933 dele foi o meu 1979. Porém, seria ingrato se não admitisse que é meu ano sagrado: foi aquele em que, saído da casca do ovo, saltei da beira do ninho para o mundo e me tornei não sei quantos por cento do que sou hoje, talvez 100.


Jeosafá é escritor e professor Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, lançou em 2013 O jovem Mandela (Editora Nova Alexandria) e  em maio deste ano, nos 90 anos de Malcolm X, O jovem Malcolm X, pela mesma editora.

domingo, 6 de abril de 2014

CRÔNICA —José Wilker, um caso especial de coragem

Morávamos em treze numa digna casa de madeira na então distante vila Ede, periferia de São Paulo, sem asfalto, sem água encanada e com esgoto correndo por valetas infectas que iam dar no córrego Maria Paula, e que hoje corre por sob as ruas asfaltadas, ainda recebendo o dejeto das casas, pois nem o estado nem a prefeitura se dignaram a resolver a "questã".

Mas a "questã" não é essa. A "questã" é a primeira vez a que assisti a José Wilker.

Foi no início da década de 1970, e eu tinha ou 7 ou 8 anos de idade [na verdade, como se verá ao final deste artigo, o ano é 1974, e eu contava então com 10 anos de idade]. A imprecisão se deve à distância no tempo e à minha pouca idade de então, que era regida não por anos, mas pelo sol e pela lua, pelas brincadeiras no quintal cheio de árvores e pelos bichos de criação que zanzavam o dia pelo terreiro. Além da pouca idade, eu era mirrado, magro e irritadiço, por causa de uma dor de garganta crônica que não me deixava comer nada, e que só sarou lá pela adolescência, quando enfim cresci de repente e cheguei ao 1,70m de hoje.

A televisão, comprada por meu pai em suaves prestações na falida rede lojas Pirâni, que foi para as cucuias no incêndio do edifício Andraus, no centro de São Paulo, era uma novidade: uma Philco 29 polegadas em preto e branco, com uma lâmina de vidro para proteger o telespectador da radiação.

Reunidos em torno da telinha num quarto que até a hora de dormir era sala de televisão coletiva, inclusive com presença de filhos de vizinhos  e às vezes os próprios pais, quando o capítulo da novela era crucial , ríamos e chorávamos com nossos heróis, às vezes tão parecidos com a gente, como no caso de Irmãos Coragem.

Nunca esqueci de quando Wilker passou a existir para mim. Foi num caso especial em que um jovem professor, em sérios problemas financeiros, divide uma casa pobre com a esposa grávida. Sua pobreza era a nossa, sua mulher era nossa mãe, que saía de uma gravidez para entrar noutra, até completar os onze em que nos tornamos.

Nossa torcida era toda para que ele tivesse sucesso, pois, nesse caso, nós, cujo único caminho apontado por seu João e dona Maria para sairmos da vida difícil era o do estudo, poderíamos ter também.

Não precisa dizer o quanto ele sofre, sem dinheiro, avançada a gravidez da jovem companheira, com os sucessivos "nãos" que recebe pela cara. E, a cada "não", ele e sua jovem esposa mais se parecem com nossos pais  e nós, com aquela criança prestes a entrar no mundo pela porta da miséria.

O enredo é simples, e não me recordo nem do nome, nem de detalhes importantes do caso especial exibido pela Globo. Pela pouca idade, nem se me ocorria a importância de guardar o nome do diretor (pela linguagem, temática e profundo humanismo, arrisco que foi Vianinha, se não Dias Gomes  ou ainda Janet Clair).

Depois de muitas frustrações, o personagem interpretado por José Wilker acaba se inscrevendo num concurso público de docência, não sei se para o hoje Ensino Básico ou para o Superior, arrisco que foi para o Superior, pois se forma uma banca feroz que sabatina duramente o candidato [na verdade, trata-se do exame de Mestrado, em 2024 graças às maravilhas da Internet].

Antes da sabatina, o personagem, a esposa grávida, vive uma trajetória de dificuldades econômicas e de muitas tentativas de emprego frustradas, muito em função de  sua escolha pessoal: dedicara-se apaixonadamente ao estudo de um tema específico:  a vida e a história de Pedro Ivo, herói da Revolução Praieira (1848-50), em Pernambuco. O fato é que ele se prepara como um louco para esse exame, porém, apresenta-se arrasado à sabatina, pois, afinal das contas, a única coisa de que entende é Pedro Ivo e sua revolução libertária.

A cena decisiva do caso especial é quando uma banca de doutores de aparência terrível recebe o candidato para realizar a chamada oral. Nós   no quarto convertido em arquibancada de arena em que se jogam cristãos aos leões, uns acomodados na larga cama de molas de meus pais, outros em cadeiras capengas, outros pelo chão  estávamos sentados na verdade na cadeira ocupada por um José Wilker de olhos abatidos pelo sono dos estudos e pelas olheiras dos perdedores.

O olhar severo dos doutores da banca, posicionados em patamar superior, fulminavam o coitado do José, que naquele momento era todo o Brasil pobre, trabalhador, mal nutrido e cheio de amarga esperança. Anos mais tarde, embrenhando-me por nossa história, identifiquei aquela cena com fotos de julgamentos de presos políticos. Quem escreveu e dirigiu aquele caso especial era muito inteligente, teve muita coragem e contou com a burrice da censura, ainda bem.

Na cena decisiva, o clímax é quando o presidente da banca sorteia o ponto para sabatinar o candidato, o temível assunto sobre o qual o torturado José Wilker terá de discorrer com exatidão, se quiser conquistar o sonhado emprego que abrirá uma janela de respiro para o sufoco família, a dele e a nossa.

Não me lembro se após essa cena há mais alguma coisa de importante, mas é ela que está nos meus olhos até hoje: o presidente da banca anunciando o ponto e a câmera indo em close para o rosto sonado e infeliz do José, que arregala uns olhos marotos, felizes de assustar, e dá uma gargalhada que deixa a banca atônita e nós, empoleirados pelo quarto, em extremo êxtase: o ponto sorteado era... PEDRO IVO.

Na minha memória, o caso especial acaba aí, os membros da banca se entreolhando confusos, mas alegres, despidos mesmo da severidade, e com o rosto jovem e fresco de Wilker congelado numa belíssima gargalhada que, no entanto, nos fez chorar.

PS. Um leitor, Carlos Cleto, em 21 de março de 2020, nos comentários, informou o ano (1974) e o nome do Caso Especial da Globo: Enquanto a cegonha não vem. Conferi e ele está certo, Renata Sorrah contracena com Wilker, o roteiro é de Vianninha e a direção, de Daniel Filho.

Enquanto a cegonha não vem, informa o blog Estranho Encontro, "deu origem no ano seguinte ao longa-metragem O Casal (1975) [dirigido também por Daniel Filho, teve mais de 1 milhão de espectadores]. Do 'casal' televisivo, José Wilker foi mantido como protagonista. A mocinha grávida, que na TV foi Renata Sorrah, no filme passou para Sônia Braga. Estreando no Rio em 11 de Setembro de 1975, “O Casal” pegou La Braga na crista da onda, por conta da novela “Gabriela”, que estreara em abril daquele distante ano.

Jeosafá Fernandez Gonçalves é Doutor em Letras pela USP e Pós-Doutor em História pela mesma Universidade. Escritor e professor, lecionou para a Educação Básica e para o Ensino Superior privados. Foi da equipe do 1o. ENEM, em 1998, e membro da banca de redação desse Exame em anos posteriores. Compôs também bancas de correção das redações da FUVEST nas décadas de 1990 e 2000. Foi consultor da Fundação Carlos Vanzolini da USP, na área de Currículo e nos programas Apoio ao Saber e Leituras do Professor da Secretaria de Educação de São Paulo.  Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, entre os quais Carolina Maria de Jesus: uma biografia romanceada, O jovem Mandela, O jovem Malcolm X (Editora Nova Alexandria); O espelho de Machado de Assis em HQ, A lenda do belo Pecopin e da bela Bauldour, tradução do francês e adaptação para HQ do clássico de Victor Hugo (Mercuryo Jovem).










segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Jorge Amado, o nosso capitão de areia


Artigo para a revista PRINCÍPIOS, Outubro de 2012, escrito a partir de dois outros, já publicados neste blog e na obra Entre Livros (São Paulo, Plêiade, 2012.)

No centenário do nascimento de Jorge Amado, um romance significativo de sua obra, Capitães de Areia, cuja primeira edição foi incinerada pela ditadura do Estado Novo, em 1937, continua a assombrar mentalidades reacionárias, atormentadas por um fantasma que ameaça seu mundo: a justiça social.





No ano de 2009 tive a honra de defender Jorge Amado junto ao Ministério Público do Estado de São Paulo. Este, como Carlos Gardel –  que depois de morto canta cada vez melhor –, continua atazanando as consciências culpadas das elites paulistas egressas da revolução de 32.

Setores empedernidamente reacionários da sociedade paulista, que plantam conservadorismo nas consciências desavisadas para colher votos nas eleições, continuam enxergando no grande escritor baiano inúmeras vezes cotado para o prêmio Nobel um subversivo instigador da juventude e, agora, a esta altura do século XXI, um aliciador de menores.

Esse setor, acérrimo adversário do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por entender que esse mecanismo de preservação de direitos “protege bandidos”, recorreu ao próprio ECA para sustentar suas argumentações inquisitoriais e falso-moralistas. Segundo essa parcela de mentalidade medieval da sociedade brasileira, o livro Capitães de Areia contém trechos pornográficos que ferem o Estatuto da Criança e do Adolescente, o que justificaria sua cassação do currículo escolar - o mesmo livro que, queimado pela ditadura do Estado Novo, foi aceito no currículo escolar por uma outra ditadura igualmente ou talvez mais feroz, qual seja a militar.

Milton Hatoum, no prefácio da edição mais recente dessa obra (São Paulo, Cia. Das Letras, 2008) em circulação há décadas na rede pública estadual, discorre sobre o impacto que em sua formação, toda ela ocorrida nos anos de chumbo, exerceu esse livro contundente, multipremiado, objeto de um sem número de dissertações de mestrado e teses de doutorado pelo Brasil e pelo mundo afora, e traduzido para mais de 20 diferentes idiomas da Terra.

A defesa técnico-pedagógico-literária que fui convidado a realizar na oportunidade, na condição de Doutor em Letras especializado na obra do escritor soteropolitano, foi contundente e convincente, o que sustentou a permanência dessa obra essencial de nossa literatura na sala de aula de nossas escolas públicas e nas mãos e nos corações de nossos estudantes.

Porém, no ano de 2010, em agosto, sempre esse mês aziago, um promotor público, movido por estranhos e impulsos, mandou recolher Capitães de Areia das escolas de uma cidade do interior de São Paulo, o que foi  feito sob o silêncio sorridente do então governo Serra.


Capitães de areia, convertido para o cinema e cuja estreia ocorreu em outubro de 2011 (Dir. Cecília Amado, neta do escritor, e Guy Gonçalves), é uma obra significativamente representativa da fase da obra de Jorge Amado que o projetou no cenário literário brasileiro e dele para o mundo.  A seguir, reproduzo o texto de um documento histórico, bastante esclarecedor da relevância desse livro para a literatura brasileira e para a consciência democrática:

ATA DE INCINERAÇÃO
Aos dezenove dias do mês de novembro de 1937, em frente à Escola de Aprendizes Marinheiros, nesta cidade do Salvador e em presença dos senhores membros da comissão de buscas e apreensões de livros, nomeada por ofício número seis, da então Comissão Executora do Estado de Guerra, composta dos senhores capitão do Exército Luís Liguori Teixeira, segundo-tenente intendente naval Hélcio Auler e Carlos Leal de Sá Pereira, da Polícia do Estado, foram incinerados, por determinação verbal do sr. coronel Antônio Fernandes Dantas, comandante da Sexta Região Militar, os livros apreendidos e julgados como simpatizantes do credo comunista, a saber: 808 exemplares de Capitães da areia, 223 exemplares de Mar morto, 89 exemplares de Cacau, 93 exemplares de Suor, 267 exemplares de Jubiabá, 214 exemplares de País do carnaval, 15 exemplares de Doidinho, 26 exemplares de Pureza, 13 exemplares de Bangüê, 4 exemplares de Moleque Ricardo, 14 exemplares de Menino de Engenho, 23 exemplares de Educação para a democracia, 6 exemplares de Ídolos tombados, 2 exemplares de Ideias, homens e fatos, 25 exemplares de Dr. Geraldo, 4 exemplares de Nacional socialismo germano, 1 exemplar de Miséria através da polícia.
Tendo a referida ordem verbal sido transmitida a esta Comissão pelo sr. Capitão de Corveta Garcia D'Ávila Pires de Carvalho e Albuquerque e a incineração sido assistida pelo referido oficial, assim se declara para os devidos fins.
Os livros incinerados foram apreendidos nas livrarias Editora Baiana, Catilina e Souza e se achavam em perfeito estado.
Por nada mais haver, lavra-se o presente termo, que vai por todos os membros da Comissão assinado, e, por mim segundo-tenente intendente naval Hélcio Auler, que, servindo de escrivão, datilografei. (assinados)
Luís Liguori Teixeira, Cap. Presidente
Hélcio Auler, Segundo-Tenente Int. N.
Carlos Leal de Souza Pereira

(Transcrito do jornal Estado da Bahia, de 17-12-37).
FONTE: Duarte, Eduardo Assis. “Literatura e Cidadania”. Campinas, UNICAMP Disponível em http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/leitura%20e%20cidadania.htm. Acesso em 22 agosto 2012.

A queima dessa obra em 1937, em sua primeira edição pela Livraria José Olympio Editora, marca um dos períodos mais obscurantistas da vida brasileira. Porém, não deixa de ser curioso que, se essa ditadura condenou Capitães de Areia, a que veio depois não viu nesse livro qualquer grande risco, uma vez que em 1966 ele fazia parte do currículo oficial e era lido por adolescentes do país.

Sobre esse particular, é esclarecedor o Posfácio de Milton Hatoum à edição de Capitães de Areia realizada pela Cia. Das Letras. Diz o insigne ficcionista brasileiro à pagina 273:

"Em 1937 Capitães de Areia foi censurado e depois queimado em Salvador", disse minha professora de português, quando eu estudava no Ginásio Amazonense Pedro II, em Manaus. A frase da professora aumentou a curiosidade dos estudantes por esse romance, um dos livros obrigatórios do curso de literatura brasileira. Por sorte, a leitura deu prazer aos jovens leitores. Agora, ao reler a história dos meninos do trapiche, encontrei o mesmo deleite, mas com outro olhar: o leitor de 1966 não é o mesmo de 2008.

Milton Hatoum nasceu em 1952, portanto em 1966, em plena ditadura militar, aos 14 anos de idade, ele era “obrigado” a ler – com prazer, confessa – o mesmo livro que a muitos partidários da censura ainda hoje, em plena vigência do regime democrático, causa comichões e apoplexia, como a atitude desse agente do ministério público obscurantista bem serve de exemplo e alerta. 

Não deixa de ser espantoso que uma ditadura tenha queimado a obra, junto com outras do mesmo autor e de outros, enquanto outra ditadura, por muitos considerada mais feroz, a tenha acolhido para leitura de adolescentes em início de puberdade.

Ray Brabury, em seu Fahrenheit 451, trata exatamente desse triste assunto: o da censura e queima de livros por mentalidades e regimes obscurantistas.

Nesse excelente romance, que já nasceu clássico e que foi adaptado para o cinema por François Truffaut, Ray Bradbury discorre sobre um futuro não muito distante, quando os livros, proibidos, serão incendiados junto com seus possuidores, convertidos, por um modo de vida e um regime totalitários, em horda de leitores clandestinos e potencialmente perigosos . O livro é uma contundente alegoria contra regimes autoritários, para os quais nada pode haver de mais perigoso do que certos tipos de livros.
No posfácio da edição de 2003 (São Paulo, Editora Globo, 2003) o autor norte-americano diz:

Esfole, desosse, desmonte, escarifique, derreta, encurte, destrua. Todo adjetivo de quantidade, todo verbo de movimento, toda metáfora que pesasse mais que um mosquito – eliminados! Todo símile que teria feito a boca de um submentacapto se contorcer – desaparecido! Qualquer paralelo que explicasse a filosofia barata de um escritor de primeiro nível – perdido!

(...)

Existe mais de uma maneira de queimar um livro. E o mundo está cheio de pessoas carregando fósforos acesos.

Algumas leituras apressadas de Capitães de Areia, ao acusarem o livro de “libidinoso”, “imoral”, e mesmo “pornográfico”, fazem eco a práticas da censura e da queima de livros, quando o que está em jogo nesse romance é o abandono de crianças largadas à sua própria sorte e obrigadas a realizarem sua aprendizagem nas ruas, onde são exploradas e violentadas todos os dias.

Nesse caso, pornográfico não é o livro, mas, a miséria que ele tem a coragem de denunciar na forma de romance.  Porém, quanto a isso, a mesma mentalidade que caça livros para incineração no interior de São Paulo, silencia, e ri, indecentemente.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Fora da Ordem e do Progresso, Luiz e Simone Ruffato (org.s)

A literatura é uma arte, mas é também uma forma de conhecimento do mundo. Não por acaso Freud estudou profundamente a literatura clássica grega para formular suas teorias sobre a psicologia humana e, por essa mesma razão, com frequência historiadores, sociólogos e antropólogos visitam as páginas da ficção para conferir nesse meio suas intuições, derivadas de anos de pesquisa documental, bibliográfica e de campo.

Naturalmente, no mundo da literatura as representações humanas, sociais, históricas e geográficas, não obstante a lagarta de que se criaram, são já borboletas, umas acinzentadas, outras monocromáticas, outras multicores, umas silenciosas e discretas, outras a estalar as asas enquanto voam.

Há quem se aborreça com a alegoria zoológica do parágrafo anterior, porém, foi a que melhor me acorreu para tornar visível um processo orgânico da produção literária: o de metamorfose da realidade.

Por mais realista que se apresente ao leitor um conto ou um romance, a realidade nele é uma produção psíquica do autor, registrada em letras pretas sobre páginas em banco. A realidade de que o autor parte para criar sua ficção é ainda uma lagarta, que só se converterá em borboleta após a hibernação no casulo de sua subjetividade e o rompimento dele por meio de técnicas mais ou menos comuns à sua época e de artimanhas de estilo, próprias de cada qual.

Dito isto, Fora da Ordem e do Progresso, volume de contos brasileiros organizado por Luiz e Simone Ruffato, embora enfatize a memória da lagarta hibernada no inverno de ditaturas e vícios políticos, é revoada de borboletas numa primavera de liberdade expressiva. Mais precisamente, dezessete delas:

João Anzanello Carrascosa, Júlio César Monteiro Martins, Luiz Fernando Emediato, Domingos Pellegrini, João Gilberto Noll, Luiz Vilela, Sérgio Sant’ Anna, Roberto Drummond, Nélida Pignon, Ivan Ângelo, Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Fagundes Telles, Otto Lara Resende, Murilo Rubião, José J. Veiga, José Cândido de Carvalho, Marques Rabelo, Alcântara Machado, Dyonélio Machado, Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Lima Barreto, João do Rio, Alcides Maya, Arthur de Azevedo, Machado de Assis e Bernardo Guimarães.

Como se pode observar na ordem em que os autores são citados acima, o critério de organização da coletânea é cronológico, e invertido: do presente para o passado. Assim, no início do livro está representada a última década do século XX, ao fim dele, o século XIX comparece.

As mazelas de nosso processo histórico, sociológico e, com mais ênfase, político, são flagradas ora com humor, ora com profunda indignação, mas sempre com muita qualidade estética, em que surpresas nos enredos e luminosidades de linguagem poética pontuam sempre.

O prefácio, dos organizadores da antologia, sucinto, preciso, direto e muitíssimo elucidativo explica:

“Há distintas maneiras de nos aproximarmos da História.  (...) Para esta antologia, propomos uma outra apreensão, a da História como sincronicidade. Ou seja,  entendida como acontecimentos simultâneos no espaço e no tempo, descompassada e inconclusa, que se constrói à medida que ocorre, protagonizada por anônimos personagens destituídos de heroísmos, tragicamente marginais à cronologia, agentes e pacientes sem o saber. Histórias que são e não são parte da História do Brasil. Histórias fora da ordem e do progresso”.

Para confirmar esse ponto de vista dos organizadores da coleção, é interessante listar as primeiras palavras dos contos iniciais do volume:

“Escurecia. As montanhas, havia pouco iluminadas pelo sol, em agora sombras suaves” (Travessia, João Anzanello Carrascosa).

“Meu amigo Pedro morreu de cabeça para baixo, com uma galinha ou uma fruta madura” (A Posição, Júlio César Monteiro Martins).

“Nós acordamos cedo e vestimos os nossos uniformes. Nossos pais nos recomendaram prudência e ouvimos seus conselhos” (A data magna do nosso calendário cívico, Luiz Fernando Emediato).

“O menino balançava na rede, com pijama de flanela. Não podia sair ali da varanda. Não podia pular. Não podia correr” (O dia em que morreu Getúlio Vargas, Domingos Pellegrini).

O leitor pode optar por outra ordem de leitura, mas seguir aquela proposta pelos organizadores da coleção não deixa de ser uma opção bastante feliz, pois as formas literárias de representação de nossa história se vão sucedendo como se o ponto de vista do  leitor mergulhasse em um túnel do tempo.

Fatos históricos de repercussão são abordados não pela lente grande-angular das efusivas comemorações ufanistas do período da ditadura militar, mas, a título de exemplo, por uma lente subjetiva que acompanha os passos de gente comum, encurralada entre bandeirolas da festa da Independência e fuzis que as obrigam a ser patriotas em massa.

Num outro exemplo, a tortura é captada não pela ótica de um estoicismo supra-humano, mas pela de um heroísmo chão, coerente, de um realismo cru, pelos olhos do personagem que descreve a morte do amigo, pendurado pela pernas como um frango de frigorífico, num dos muitos porões de suplício que se proliferaram durante o Regime Militar brasileiro.

Daí podemos dizer que se trata de um mergulho na história? Sim, sem dúvida porém, com o devido cuidado de lembrar que a lagarta aqui é já borboleta: é a história pela lente da literatura, por mais convincentes que sejam essas 27 narrativas e o prefácio.

Mas alguém em sã consiciência afirmaria que a história, com  "h" minúsculo ou maiúsculo, prescinde da lente literária? Com efeito, a história, tenha ela o "h" que tiver, nua e crua, sem o aporte significativo da literatura, talvez seja a maior das ilusões.

FONTE: Fora da Ordem e do Progresso. Organização, apresentação e notas Luiz e Simonte Ruffato. São Paulo. Geração Editorial, 2004.


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Trevas no paraíso, de Luiz Fernando Emediato

Quem deseja mergulhar de cabeça, não sem risco de arrebentá-la, no fundo duro da década de 70, que vá imediatamente à livraria mais próxima, que pode estar a um clic do mouse, com o perdão pelo trocadilho infame com o nome do autor, e adquira Trevas no paraíso – Histórias de amor e guerra nos anos de chumbo, de Luiz Fernando Emediato.

Nas páginas desse volume estão a violência do aparato policial do Estado ditatorial e a loucura dos jovens que, em busca de uma saída a qualquer custo para o sufoco da clausura política e moral imposta por generais, e reproduzida na família por pais-patrões, foram fundo ou na resistência armada ao regime ou no “sexo, drogas e rock’nd roll”.

O peso daqueles tempos difíceis durante o qual, um a um, líderes da oposição armada ou não foram caíndo nas malhas dos Doi-Codi, permeia cada palavra das histórias desse volume que, no entanto, exala liberdade, seja pela linguagem inusitada, às vezes diversionista em razão da necessidade de driblar a burra mas truculenta censura, seja pelo caráter das experiêncas representadas, sempre no limite da emoção, da comoção e da vontade de explodir pelos ares o “Reinado de Artaroth”, espécie de deus cruel da gerra, cuja soberania violenta toda beleza da cidade de Mondoro.

O Brasil esmagado pelas botinas dos generais e pela "Marcha da Famlia com Deus etc." está todo aí, acrescido da engenhosidade de um escritor moço, que entre 1973 e 1979 empapuçou-se de vencer prêmios literários e depois mandou a literatura à merda, com todos os prêmio juntos, bem ao estilo Pasquim de ser.

O trabalho de Luiz Ruffato, organizador e apresentador do livro, faz chegar ao leitor o olor fresco e vivo dessas páginas indignadas, sardônicas e às vezes amargamente hilárias, que remetem em muitos e excelentes momentos ao melhor de Bukowski.

Na denúncia artisticamente formulada ao modo de colagem, até discurso de palamentar opositor da ditadura serve para romper o silêncio imposto pelos coturnos, pela censura e pela perseguição.

Viajar pelas páginas de um então Luiz Fernando Emediato de cabelos encaracolados no reinado de Artaroth é entrar de sola na corda bamba que Aldir Blanc e João Bosco esticaram para Elis Regina trilhar com a voz limpa de canário fugido da gaiola.

Quem topa?

FONTE: Trevas no paraíso - Histórias de amor e guerra nos anos de chumbo. Org. e Apres. Luiz Ruffato. São Paulo, Geração Editorial, 2004.