Este artigo, capítulo de minha tese de doutorado na
Universidade de São Paulo, foi publicado na íntegra no encarte da revista
Princípios, quando dacomemoração
dos 100 anos de nascimento de Jorge Amado. Hoje, a terceira parte.
A legalização do PCB e seu vertiginoso crescimento no
imediato pós-II Guerra criou em torno de suas teses uma aura de respeito e
confiança que empolgou uma grande parcela da intelectualidade. Para um Jorge
Amado tantas vezes perseguido por sua corajosa
literatura fiel ao PCB, nada mais coerente do que, nesse curto período de
legalidade democrática, continuar a fazer em condições favoráveis e de maneira
ainda mais desassombrada o que fizera em condições extremamente adversas.
É por isso que, no centro dos conflitos representados pelo
romance, está a luta entre camponeses e latifundiários, e é também por isso que
Neném, ao final dele, retorna à terra em que nasceu: concretização da
consciência do narrador na forma de personagem, ele vai sublevar os camponeses,
coluna mestra da primeira etapa da revolução brasileira, segundo o pensamento
do PCB da época. Pode-se se objetar hoje sobre o grau de acerto do Partido e do
ficcionista – o primeiro em razão das teses, o segundo em razão da adesão
incondicional a elas – porém, jamais sobre a generosidade e a coragem de ambos
que, mesmo quando erraram foram, num sentido moral, ético e humano, grandes.
O pendor radicalmente partidário a que em nenhum momento Seara vermelha se furta está na base das
simpatias e antipatias entre o narrador e as personagens.

Desde o início do romance, quando o capataz Artur vai
sendo diferenciado e distanciado do conjunto de trabalhadores, até o final,
quando Neném volta ao sertão baiano e reecontra Militão, as aproximações e
distanciamentos funcionam como metáforas da luta de classes nos moldes entendidos pelo
PCB de então, e talvez o esquematismo dessas associações e dissociações se deve
menos às técnicas composicionais empregadas pelo autor e mais ao pensamento
partidário que subjaz a elas.
Porém, há aqui um grande mérito de Jorge Amado, para quem
a história e a sociedade são placenta legítima de a criação literária: nesse e
em seus demais romances militantes está registrada uma forma de pensar do
movimento revolucionário de época, que, nem por ser hoje objeto de críticas,
deve ser ignorado ou escamoteado.
Seara Vermelha, o filme (1964), por Rubens Ewald Filho:
* * *

Adaptação de um livro um pouco esquecido, sobre família que tem que se mudar para cidade grande e sua destruição. Embora este filme não seja reprisado, nem esteja disponível, nunca consegue esquecer desta adaptação do italiano Alberto D´Aversa (1920-69), importante professor e diretor de teatro. Nem da cena final nunca vista: quando a heroína enojada (Esther Mellinger) jogava uma cusparada bem na lente da câmera. Com Sadi Cabral, Fregolente, Margarida Cardoso.
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