Este artigo, capítulo de minha tese de doutorado na
Universidade de São Paulo, foi publicado na íntegra no encarte da revista
Princípios, quando da comemoração
dos 100 anos de nascimento de Jorge Amado. Hoje, a sétima e última parte.
A linguagem do romance, situada entre o padrão culto
informal, mais identificada com o narrador, e o popular-regional, mais
identificado com as personagens centrais do enredo significa maior eficiência
comunicativa em relação a um leitor não especializado, que o autor
deliberadamente logrou incorporar ao universo de leitores.
Obviamente, organizar em torno e a partir da literatura um público jovem
e adulto antes alheio a ela não se faz sem que se empreguem esquemas introdutórios
e mesmo facilitadores de leitura, tais comoclichês, repetições, redundâncias, desenvolvimentos
lineares, reduções interpretativas, entre outros.
Em Seara vermelha esses recursos, voltados à intenção de
transformação do leitor em militante, se dão como verdadeiro manual de doutrina
política. Hoje, muitas restrições podem ser feitas, e o são, a essa poética e a
esse estilo, porém, não se pode negar que eles já foram largamente apreciados
pelas mesmas razões que hoje são apontadas como defeitos.
Se lembrarmos que a Semana de Arte Moderna foi organizada
para despir a linguagem artística do fraque e cartola em que estava vestida,
seremos obrigados a reconhecer, para além do sucesso de público, a importância
de Jorge Amado em aproximar o espetáculo das palavras do homem comum, enquanto
tema, enquanto personagem e enquanto endereçamento de discurso.
A verdade é que Jorge Amado jamais dirigiu-se à elite
letrada: sua preocupação foi sempre escrever sobre o povo e para o povo, que
nunca é o que as classes cultas, ai delas, desejam que ele seja.
Seara vermelha acrescenta a essa desconformidade à do
registro literário de um estágio do pensamento e das práticas sociais
revolucionárias da primeira metade do século XX brasileiro, de que o autor foi
protagonista, em seus desacertos, mas também em seus momentos gloriosos.
Os caminhos da permanência de uma obra literária são quase
sempre insondáveis. É o caso de perguntar como uma obra tão perseguida,
queimada na fogueira, proscrita, acusada como vulgar e mesmo sem valor, resiste
ao tempo, às objeções e permanece.
Talvez Jorge Amado tenha escutado, ao aproximar seu ouvido do
coração povo, algo que parte de nossa crítica, tão subalterna em face de
modelos importados, não tenha sido até hoje capaz – se é que um dia o será.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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