Este artigo, capítulo de minha tese de doutorado na
Universidade de São Paulo, foi publicado
na íntegra no encarte da revista Princípios, quando da comemoração
dos 100 anos de nascimento de Jorge Amado. Hoje, a segunda parte.

Assim, cangaço e revolução não podem coexistir numa só
personagem, Jucundina segue um caminho de aprendizagem cumulativo e sem recuos,
a ação revolucionária de Neném resulta necessariamente na filiação sem conflitos
de Tonho ao Partido Comunista do Brasil.
Esse narrador criado por Jorge Amado apresenta-se, pois, despido de contradições, o
que para a dialética é não uma contradição, mas um contra-senso, uma vez que se
para ela o desenvolvimento social decorre da luta de classes, o desenvolvimento
das idéias decorre da luta de idéias, à qual é inerente a contradição.
Jorge Amado foi deputado pelo Partido Comunista do Brasil
em 1946, ano de publicação de Seara
vermelha.

Para esse comunismo de época – aparentemente muito
harmônico mas que explodirá em contradições com a morte de Stalin e com o posterior
XX Congresso do PCUS, na URSS –, a dialética assume feições de panaceia, cujo
domínio “seguro” levaria a pensamentos em perfeita harmonia com a realidade. Não se está aqui, a bem da
verdade, muito longe de Descartes –e de um certo determinismo adaptado às
necessidades de um raciocínio político um entre voluntarista e messiânico.

Para o Partido Comunista do Brasil (PCB) do período, a
revolução brasileira respeitaria a duas etapas, uma antilatifundiária e
democrático-burguesa, pelo fato de as estruturas fundiárias predominantes serem
– de acordo com o mesmo PCB – de caráter feudal, e outra socialista, sendo que
a segunda só seria alcançada após a efetivação da primeira, que estaria na ordem
do dia.
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