A cruzar o enredo linear e os planos narrativos de Seara vermelha, as repetições vão
ecoando nas diversas vozes e nos planos narrativos: o narrador denuncia a
associação entre alienação-messianismo-cangaço-latifúndio e essa denúncia vai
se repetindo nas vozes das personagens e se concretizando na forma de cenas. O
mesmo ocorre em relação a inúmeros outros enunciados, desde os relativos às
premonições de Zefa até as enfáticas descrições sensuais de Marta e de
Gertrudes.
Aqui, as repetições e redundâncias cumprem funções
estruturais: estabelecem vínculos e identidades entre personagens, movem a
máquina do enredo, com a ressalva de que têm também funções pedagógico-literárias
e pedagógico-políticas, que tem valido a
esse romance uma dupla acusação: a de populismo literário e a de populismo político.
Sobre esse particular, Alfredo Bosi, em seu História concisa da literatura brasileira, assim discorre:
Cronista de tensão
mínima, soube expressar largos painéis coloridos e facilmente comunicáveis que
lhe franqueariam um grande e nunca desmentido êxito junto ao público. Ao leitor
curioso e glutão a sua obra tem dado de tudo um pouco: pieguice e volúpia em
vez de paixão, estereótipos em vez de trato orgânico dos conflitos sociais,
pitoresco em vez de captação estética do meio, tipos “folclóricos” em vês de
pessoas, descuido formal a pretexto da oralidade... Além do uso às vezes
imotivado do calão: o que é, na cabeça do intelectual burguês, a imagem do eros
do povo. O populismo literário deu uma mistura de equívocos, e o
maior deles será por certo o de passar por arte revolucionária. No caso de
Jorge Amado, porém, bastou a passagem do tempo para
desfazer o engano”. (Bosi, Alfredo.
História concisa da literatura brasileira. São Paulo, Cultrix, 1975, p. 456-457)

Aqui, em que pese o grande intelectual que é
Alfredo Bosi e o peso de suas palavras nos meios acadêmicos, tudo indica que
seu juízo crítico, afetado seguramente por indisposições subjetivas, periclitou,
uma vez que a obra do escritor soteropolitano não cessa de ser reafirmada junto
ao público e a consideráveis setores da crítica.
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