Este artigo, capítulo de minha tese de doutorado na
Universidade de São Paulo, foi publicado na íntegra no encarte da revista
Princípios, quando da comemoração
dos 100 anos de nascimento de Jorge Amado. Hoje, a sexta parte.
A cruzar o enredo linear e os planos narrativos de Seara vermelha, as repetições vão
ecoando nas diversas vozes e nos planos narrativos: o narrador denuncia a
associação entre alienação-messianismo-cangaço-latifúndio e essa denúncia vai
se repetindo nas vozes das personagens e se concretizando na forma de cenas. O
mesmo ocorre em relação a inúmeros outros enunciados, desde os relativos às
premonições de Zefa até as enfáticas descrições sensuais de Marta e de
Gertrudes.
Aqui, as repetições e redundâncias cumprem funções
estruturais: estabelecem vínculos e identidades entre personagens, movem a
máquina do enredo, com a ressalva de que têm também funções pedagógico-literárias
e pedagógico-políticas, que tem valido a
esse romance uma dupla acusação: a de populismo literário e a de populismo político.
Sobre esse particular, Alfredo Bosi, em seu História concisa da literatura brasileira, assim discorre:
Cronista de tensão
mínima, soube expressar largos painéis coloridos e facilmente comunicáveis que
lhe franqueariam um grande e nunca desmentido êxito junto ao público. Ao leitor
curioso e glutão a sua obra tem dado de tudo um pouco: pieguice e volúpia em
vez de paixão, estereótipos em vez de trato orgânico dos conflitos sociais,
pitoresco em vez de captação estética do meio, tipos “folclóricos” em vês de
pessoas, descuido formal a pretexto da oralidade... Além do uso às vezes
imotivado do calão: o que é, na cabeça do intelectual burguês, a imagem do eros
do povo. O populismo literário deu uma mistura de equívocos, e o
maior deles será por certo o de passar por arte revolucionária. No caso de
Jorge Amado, porém, bastou a passagem do tempo para
desfazer o engano”. 

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