segunda-feira, 12 de abril de 2010

200 Crônicas Escolhidas, de Rubem Braga

Antologia de crônicas bastante representativa e ampla de um dos maiores cronistas brasileiros, estas 200 Crônicas Escolhidas, de Rubem Braga, oferecem ao leitor um excelente painel da produção do autor que, ao imprimir à crônica um estilo de tal forma poético, contribuiu decisivamente para que ela se alçasse à condição de gênero literário apreciado e frequentadíssimo.

Esta seleção é organizada a partir de obras publicadas anteriormente, das quais um certo número de crônicas foi extraído. Assim, estão representados nesta antologia os livros: O conde e o passarinho (1936); Morro do isolamento (1944); Com a FEB na Itália (1945); Um pé de milho (1948); O homem rouco (1948); A borboleta amarela (1955); A cidade e a roça (1957); Ai de ti, Copacabana! (1960) e A traição das elegantes (1967).

As crônicas de Rubem Braga transpiram humanidade, suavidade e poesia. Em seu texto, temas do cotidiano, aparentemente despidos de maior interesse, ganham relevo a partir de um ponto de vista agudo às sutilezas de detalhes e de uma linguagem trabalhada com sofisticação, mas sem sombra de preciosismos.
Nessas 200 crônicas o leitor tem a oportunidade de ver o tempo e os costumes passarem ante seus olhos não como em um desfile, mas como um passeio despreocupado pelas ruas, pelas cidades, mas também pelos destroços – caso daquelas relativas à Segunda Grande Guerra.

A mensagem que parece brotar desses textos é a de que a vida é simples e de que, se não é melhor, é porque nós a complicamos demais, detendo-nos em aspectos supérfluos que nos distanciam das coisas realmente essenciais, todas elas relacionadas à amizade, ao entendimento entre os homens, à poesia.

Como aqui se trata de crônicas, seria muito proveitoso procurar identificar em atividades de pesquisa ou escolares os elos entre os textos de cada uma e seu elo com o período de que trata. Isso daria oportunidade para que se observassem neles aspectos que garantem às crônicas de Rubem Braga a permanência com relevo na literatura brasileira, aspectos menos afetados pelo tempo, mais atemporais, por assim dizer. Quais seriam esses aspectos? Por que uma crônica da década de 1930 ainda nos toca de modo tão comovente?

FONTE: Braga, Rubem. 200 crônicas escolhidas. 27 ed. Rio de Janeiro, Ed. Record, 2009.

Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século



Italo Moriconi, organizador

Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século é uma antologia de contos brasileiros do século XX, em que comparecem os mais representativos autores do período. O livro adequa-se otimamente às séries finais do Ensino Fundamental, ao Ensino Médio e ao público adulto, que nesta edição muito bem cuidada terão um amplo panorama da produção brasileira no período.

O título é passível de reparo, uma vez que as opções feitas pelo organizador são pessoais, embora baseadas em juízo crítico, e que o ranqueamento imposto pelo termo “melhores” é igualmente passível de amplo questionamento. Razões comerciais, sem dúvida, nortearam a escolha do título.

Todavia, a seleção é representativa da produção brasileira do período, é bem feliz e o tratamento dos textos é primoroso e a ressonância comercial do título não prejudica em nada o conteúdo da seleção, realmente muito boa.

O leitor, de posse desse volume, tem uma amostra significativa dos autores que, no século XX, militaram com relevância nesse gênero, que não cessou de aumentar de público desde 1900, em função mesmo da persistência e valor desses mesmos autores.

Os critérios adotados pelo autor – que divide o século em momentos aglutinantes (de 1900 aos anos 1930; anos 40 e 50; anos 60; anos 70; anos 80 e anos 90) – permitem a ele, seguindo essa divisão cronológica, oferecer, num mesmo volume, de Machado de Assis a Dalton Trevisan, de Júlia Lopes de Almeida a Olga Savary.

A diversidade de temas, de abordagens e estilos permite que se viaje pelas mais inusitadas experiências humanas transfiguradas pela literatura, tanto quanto permite apreciar as estratégias adotadas pelos vários autores para iludir e divertir o leitor com seus ardilosos artifícios de linguagem e com sua habilidade inesgotável para criar situações e mundos improváveis, mas convincentes.

Se a ordem cronológica adotada possibilita ao professor ou ao estudante observar o desenrolar da produção contística brasileira ao longo do século XX, a segmentação temática, agregada à cronológica, serve como recorte de sentido, a criar elos entre os contos dessa forma agrupados.

Assim o organizador articula à época os subtítulos orientadores: para os anos 1900 a 1930, “Memórias de ferro, desejo de tarlatana”; para as décadas 40 e 50, “Modernos, maduros, líricos”; para os anos 60, “Conflitos e desenredos”; para os anos 70, “Violência e paixão”; para os anos 80, “Roteiros do corpo”; e para os anos 90; “Estranhos e intrusos”.

Essa subtitulação diz respeito ao que o organizador considerou representativo em cada período, o que orientou suas escolhas, seja no âmbito dos autores eleitos para a coletânea, seja no que diz respeito ao conto representativo da obra do autor destacado. Conferir a pertinência dessa segmentação cronológica e esse agrupamento temático é um excelente exercício a ser realizado em grupo ou individualmente, em sala ou como tarefa de casa.

FONTE: Moriconi, Italo. Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 2001.

Contos Romanos, Alberto Moravia

Trad. Alessandra Caramori

Alberto Moravia é um dos maiores escritores de língua italiana. Tendo emprestado suas habilidades para o cinema neo-realista italiano da melhor safra, esses seus Contos Romanos, na primorosa tradução de Alessandra Caramori, pela editora Berlendis, versa sobre o cotidiano popular na Itália do imediato pós-Segunda Guerra. Com um humor maroto, zombando da melancolia e de qualquer sentimento autocomiserativo, o autor extrai riso das difíceis situações vividas pela população de Roma em sua luta para superar a miséria produzida pela guerra.

Os personagens desses admiráveis contos estão sempre envolvidos em trapalhadas, enganos, pequenos furtos, situações incômodas ou ridículas. Algumas muitas cenas retratadas esbarram no pastelão, porém, são descritas e narradas com tal verossimilhança que o leitor se condói dos envolvidos nelas.

Palhaços, falsários, brigões, beberrões, camelôs, falsos amigos, cafajestes arrependidos, famílias estropiadas, jovens sedutoras e infiéis, trabalhadores na completa penúria e desempregados se movem em meio à falta geral de dinheiro, tocados simultaneamente por sentimentos de egoísmo e solidariedade, de companheirismo e de concorrência por um prato de comida.
No entanto...

De tudo isso Moravia faz brotar humor, riso e, por incrível que pareça, alegria. Os personagens desses contos têm uma força moral comovente e, frente às dificuldades, portam-se de maneira digna e sem o menor laivo de autocomiseração.

Perdendo a concorrência na venda de seus produtos para uma moça bonita, ou rolando pelo chão de
um restaurante em uma altercação completamente gratuita, esses personagens não se diluem, não perdem a integridade e dão mostras de que não estão dispostos a se entregar à prostração em face do destino.

Eles passam privações, se expõem ao ridículo, brigam por nada e com a mesma facilidade desculpam-se, mas não se entregam, persistem e, embora se lamentem em voz alta, não perdem a oportunidade de revidar.

Observar como Moravia extrai riso de situações tão comoventes e como faz crescer aos olhos do leitor personagens representativos de tipos sociais sempre humilhados é um exercício que poderia ser realizado com proveito por estudantes e professores. Ao final da leitura desse livro nos perguntamos: por que esses personagens nos comovem? O que neles os torna grandes, humanos, dignos, comoventes em meio a tanta privação? O quê?

FONTE: Moravia, Alberto. Contos Romanos. Trad. Alessandra Caramori. São Paulo. Ed. Berlendis & Vertecchia. São Paulo, 2002.