segunda-feira, 12 de abril de 2010

Poesia Completa de Álvaro de Campos, Fernando Pessoa

Teresa Rita Lopes, edição

Álvaro de Campos é entre heterônimos de Fernando Pessoa aquele ao qual se tem atribuído a mais ampla liberdade de expressão poética e a adesão mais radical à modernidade. Mas esse é um dos Álvaro de Campos, já que a crítica observa nesse heterônimo ao menos três momentos bem marcantes: um inicial, mais ligado ao decadentismo de final do século XIX; um futurista, ou sensacionista, bastante ligado ao modernismo, a sua empolgação com as máquinas e a sua vertiginosidade; e um terceiro, pessimista, às voltas com o cansaço extremo e com a sensação de inutilidade de tudo.

Nesta edição de bolso muitíssimo bem produzida em papel Pólen, o leitor tem oportunidade de ler os textos de Fernando Pessoa, uma das personalidades literárias mais intrigantes e labirínticas da literatura em língua portuguesa, auxiliado por ensaios bastante elucidativos.
Além dos poemas, preparados e anotados com esmero por Teresa Rita Lopes, o volume oferece ao leitor:
  • No início, uma “Nota Prévia”, que informa sobre as particularidades da edição, inclusive com legenda de abreviaturas e sinais empregados para anotar a obra; um excelente prefácio “Este Campos”, assinado pela mesma Teresa Rita Lopes, na verdade um significativo ensaio de vinte e cinco páginas, verdadeira aula magna sobre Álvaro de Campos no âmbito da complexidade de Fernando Pessoa;

  • Ao final: um alentado corpo de Notas, frutos de longa pesquisa realizada para estabelecimento do texto; um importante Posfácio “Campos e a Tradição”, a rigor outro significativo ensaio da mesma Teresa Rita Lopes, em que são discutidos os critérios e as linhas de trabalho adotadas para o estabelecimento do texto integral; um “Índice dos Primeiros Versos”, para consulta rápida dos poemas e ainda uma brevíssima biografia de Fernando Pessoa, na verdade, aqui, mais uma cronologia de eventos principais.
Ao apresentar num só volume os poemas, cujos textos foram estabelecidos a partir de rigorosos critérios de pesquisa e edição, e os ensaios, a presente edição põe em mãos do leitor uma obra de consistente valor literário e teórico – garantidos pela representatividade do autor e por dois ensaios de grande relevância.

Assim o leitor, seja para fruição estética, seja para pesquisa literária, goza da confortável segurança de ter em mãos uma obra que respeita ao extremo a virtuosidade de linguagem impactante de Álvaro de Campos:

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.”

Ler os poemas coletiva ou individualmente, em voz alta ou silenciosamente, de forma dramatizada ou em recital, debater os ensaios à luz de outros trabalhos sobre o autor e comparar o que dizem os ensaios com “o que” e “como” dizem os poemas são atividades que, levadas à prática, prolongam o prazer da leitura, tornam mais aguda a fruição dos textos e aprofundam a compreensão acerca dos sentidos em jogo. Em se tratando de Fernando Pessoa, não se pode ficar aquém disso.

FONTE: Pessoa, Fernando. Poesia Completa de Álvaro de Campos. Edição Teresa Rita Lopes. São Paulo, Ed. Cia. Das Letras, 2007.

Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século

Italo Moriconi, organizador

Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século é uma antologia de poemas brasileiros do século XX em que comparecem os mais representativos poetas do período.

Embora o termo “melhores” necessite ser relativizado, porque estabelece um juízo muito questionável de hierarquia entre poemas de um mesmo autor e entre escritores, a seleção é inegavelmente representativa e oferece ao leitor um boa amostragem da poesia brasileira no século XX .

Na Introdução, o organizador esclarece os critérios que adotou para a seleção e disposição dos textos no volume, bem como o esforço de pesquisa realizado. Nessa introdução o leitor tem notícia de quão complexos são os caminhos e de quantos riscos envolvem aquele que se dispõe a organizar uma antologia, da difícil articulação entre a história da literatura e a crítica, passando pelo domínio da produção individual de cada autor, até os insondáveis mecanismos do sucesso literário, que enredam leitores e escritores nas teias insondáveis do mercado editorial.

Dividida em quatro partes, esta antologia segue critério cronológico e agrupa os textos a partir de linhas de força consideradas relevantes pelo organizador. Assim, “Primeira Parte – Abaixo os Puristas” é dedica à geração modernista de 1922 e à produção que girou em torno dessa estética profundamente criativa e iconoclasta.

A “Segunda Parte – Educação Sentimental” reúne textos que, a rigor, correspondem à chamada Geração de 30 na poesia. A presença de autores identificados com períodos anteriores deve-se ao fato de que o texto selecionado ajusta-se à identidade dessa fase da produção poética brasileira.

A “Terceira Parte – O Cânone Brasileiro” tem como núcleo o que se convencionou chamar de Geração de 45. O autor engloba nesse período a produção que vai até a década de 1960, e não deixa de surpreender que essa parte seja encerrada com trecho do Poema Sujo, de Ferreira Gullar, escrito em 1975 e publicado somente no ano seguinte.

A “Quarta Parte – Fragmentos de um Discurso Vertiginoso” corresponde à produção poética brasileira a partir da década de 1960, com suas dissensões, agrupamentos e polêmicas.
Além da oportunidade de ler belíssimos textos, o leitor tem a oportunidade de comparar a organização da antologia com os critérios adotados pelo organizador.

Se tivesse que escolher poemas para escrever em seu caderno ou para guardar em seu arquivo digital, como o leitor procederia? Que critérios adotaria? Que autores ou poemas ficariam de fora? Quais seriam selecionados e de que maneira seriam organizados?

FONTE: Moriconi, Italo. Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 2001.


LANÇAMENTO
Era uma vez no meu Bairro
ZONA NORTE – Nova Edição
ZONA LESTE – Inédito
Dia 18 de outubro de 2011
19:30h
Livraria do Espaço Unibanco de Cinema da Rua Augusta
SÃO PAULO - SP

O Brasil das Placas, de José Eduardo Rodrigues Camargo e L. Soares


O Brasil das Placas reúne fotos de placas espalhadas pelo Brasil, cada uma delas resenhada por uma estrofe de cordel. Muito criativo, dá oportunidade de o leitor viajar pelas paisagens do país e de rir dos conteúdos e formas empregados pelos autores das placas para veicular suas mensagens, às vezes irônicas, às vezes humoradas, às vezes simplesmente erráticas.

Atire a primeira pedra quem nunca ou riu ou ficou indignado ante uma placa confusa ou simplesmente mal escrita. Agora, atire outra pedra, ou a mesma, se a primeira ainda não foi atirada, quem nunca cometeu um erro de concordância estapafúrdio.

A verdade é que todos aqueles que fazem uso da linguagem verbal, oral ou escrita, estão sujeitos a enganos ou distrações que podem ter resultados imprevisíveis – inclusive nenhum.

Alguém que digita rapidamente no teclado de um computador a palavra “cronologia” pode escrever, sem o desejar, a palavra “cornologia”, tanto quanto alguém, ao preparar a resenha de um livro, pode redigir “uma bela foto de campa” no lugar de “uma bela foto de capa”. Se no primeiro caso o engano suscita o riso, no segundo, alude a algo funesto.

Quantos escritores não terão alterado a redação de um texto seu ao ler, na revisão final, uma palavra surgida como que do além, no entanto saída de seus próprios dedos? Com certeza, muitos, senão todos.

Neste O Brasil das Placas, tem-se a oportunidade de ler uma quantidade considerável de textos que, abstraídos os contextos – as placas – e as intenções de quem os produziu, poderiam ser considerados frutos de erros, enganos, distrações ou segundas intenções:

FAMÍLIA MUDA
VENDE TUDO

Na frase da placa reproduzida logo acima, a dubiedade das palavras “muda” –
que tanto pode ser o verbo “mudar” quanto o adjetivo feminino “muda “(sem voz) – e “vende” – que tanto pode ser o verbo vender como o verbo vendar (tapar os olhos) – confere à placa efeito humorístico a um leitor culto ou atento.

Porém, o flagrante fotográfico de duas placas oficiais afixadas à margem de uma rodovia, uma a dez metros de distância da outra, sem que haja qualquer nexo comum entre ambas, ganha um sentido surpreendentemente irônico:

Primeira Placa:

DEVAGAR
PERIGO

Segunda Placa:

FISCALIZAÇÃO
RECEITA ESTADUAL A 1000m

A intenção do órgão de trânsito, na primeira placa, é advertir o motorista sobre as condições da rodovia. Já na segunda placa, fixada por outro órgão, a intenção é informar os veículos de transporte comercial sobre a eventual abordagem da fiscalização 1km à frente. Mas o leitor, tendo ambas as placas no mesmo campo visual, está compelido a associar as duas mensagens num só sentido. Seria interessante tentar “corrigir” essas placas para se ver o que se ganharia e o que se perderia com isso.

Este livro é uma excelente amostra do que pode a língua portuguesa quando está distraída e a quilômetros de distância do gramático mais próximo.

FONTE: Camargo, José Eduardo Rodrigues. O Brasil das Placas. São Paulo, Ed. Panda Books, 2007.