Esta Antologia Poética de Cecília Meireles, organizada em primeira edição em 1963, um ano antes da morte da autora, é uma de suas obras de maior circulação. Reúne poemas dos livros Viagem, Vaga Música, Mar Absoluto, Elegia 1933-1937, Retrato Natural, Amor de Leonoreta, Doze Noturnos da Holanda, O Aeronauta, Romanceiro da Inconfidência, Pequeno Oratório de Santa Clara, Canções, Metal Rosicler, Poemas Escritos na Índia – e alguns poemas inéditos à altura da publicação da primeira edição.
No momento em que os poetas brasileiros reuniam-se em grupos mais ou menos incendiários e ou desafiavam a linguagem culta, ou realizavam experiências inusitadas de linguagem, ou partiam sarcasticamente para a blague, Cecília Meireles trilhou um caminho próprio, muitíssimo pessoal, e cultivou uma poesia em linguagem culta que não encontra similar nas literaturas de língua portuguesa.
O vocabulário sutil e requintado, a sintaxe exata do ponto de vista erudito, e o ritmo delicado de seus poemas sintonizam seus poemas em um ponto privilegiado da língua portuguesa em que Brasil e Portugal se aproximam sem animosidades e com grande afinidade.
Assim, seu lirismo sensível e transatlântico, acolhido com igual reverência no Brasil e em Portugal, dá voz não apenas a um modo particularmente feminino de ver o mundo, mas a uma forma de pensar poeticamente a vida dos indivíduos, tão cheia de desencontros sentimentais, sociais e históricos.
Em seus poemas têm lugar, com igual relevo, o desencanto amoroso:
“O pensamento é triste: o amor, insuficiente;
e eu quero sempre mais do que vem nos milagres.”
E a revolta contra a injustiça:
“Já se ouve cantar o negro,
chora neblina, a alvorada.
Pedra miúda não vale:
liberdade é pedra grada...
(A terra toda mexida,
a água toda virada...
Deus do céu, como é possível
penar tanto e não ter nada!)."
O contato com a poesia de Cecília Meireles confere ao leitor a oportunidade de experimentar sutilezas de pensamento, de sentimento e de linguagem. Cada poema é face de um mesmo prisma, a refletir matizes ou a decompor em cores essenciais a luz de um mesmo facho: a língua portuguesa renovada em sua tradição.
A estima da poesia de Cecília Meireles entre seus contemporâneos é tal que vários deles lhe dedicaram belos poemas, entre os quais Vinicius de Moraes, Mário Quintana e Manuel Bandeira – mas não foram os únicos.
Que tal descobrir “quem” disse “o que” sobre Cecília? A internet é uma ferramenta providencial para isso: é só digitar o nome da poeta e de outro escritor em um site buscador e uma lista surgirá para consulta.
Agora, localizado o texto na internet, o melhor a fazer é ir à fonte bibliográfica em que ele se encontra: o livro. Ele é essencial e tem algumas vantagens sobre a web: se cair das mãos, não se destrói em mil pedaços e não depende de energia elétrica nem de bateria para funcionar – ou melhor, só necessita uma bateria: o coração do leitor.
FONTE: Meireles, Cecília. Antologia Poética. 3 ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 2001.