Assista a entrevista à Opera Mundi sobre o legado de Mandela
O personagem que o leitor tem diante de si em O jovem Nelson Mandela é
muito particular. Isto porque, na trilha dos acontecimentos extraordinários que
envolveram a derrota final do apartheid na África do Sul e que repercutiram
pelo mundo todo ao final do século XX, em sua voz ecoam vozes de poetas e de
escritores, além de angústias de outros personagens mergulhados em dramas
semelhantes. Assim, o leitor descobrirá, no Capítulo 3, intitulado “Luz para
cegar”, que a luz a agredir os detentos da pedreira de calcário da ilha de
Robben é irmã daquela reverberação torturante que ofende os olhos do
sentenciado à pena de morte de O estrangeiro, de Albert Camus.
Quando a questão é pesar o drama do indivíduo instado a abrir mão do
convívio familiar para enfrentar a luta contra o regime de segregação racial,
no Capítulo 9, “Por quanto tempo pode ser prolongada a juventude”, versos de “Mensagem
à poesia”, de Vinicius de Moraes, surgem na forma de prosa sutilmente modulada.
No Capítulo 10, “Uma Johannesburg estranha demais”, uma cidade enevoada ecoa os
“timbres tristes de martírios” do Livro azul, de Mário de Andrade. E em “Um
homem não é uma ilha”, o Capítulo 11, a referência a Robinson Crusoé, de Daniel
Defoe é direta.

Assim, este O jovem Mandela que o leitor tem em mãos é ao mesmo tempo
ficção e história, informação e condensação artística de expectativas, sonhos,
frustrações e júbilo. Sua espinha dorsal é, sem dúvida, o personagem real de mesmo
nome, mas este recebe a contribuição de outras vozes inventadas,
representativas de dramas humanos igualmente verdadeiros.