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sexta-feira, 20 de março de 2020

Machado de Assis: O espelho


Frete grátis!
Neste livro você encontrará o conto integral de Machado de Assis ("O espelho - Esboço de uma nova teoria da alma humana"); uma Apresentação explicando como foi feita a Adaptação para HQ; uma análise da obra de Machado de Assis ("Machado de Assis ao espelho"); e uma Bibliografia (que informa o leitor sobre as fontes de pesquisa e o orienta a buscar sempre fontes confiáveis). 

O volume tem 64 páginas, a capa é em papel cartão, as letras são em tamanho bastante confortável para a leitura e a parte em HQ é toda em preto e branco, criando um clima de mistério, suspense e meeeeedoooooo!

Espelhos seduzem, atraem, instigam, mas uma coisa é certa: mentem, pois jamais eles nos devolvem nossa imagem verdadeiramente definitiva (ou ela está invertida, ou o distorcida).

Isso ocorre em parte pela natureza enganadora dos espelhos, em parte por não sermos definitivos (mudamos o tempo todo). Quem disser que está totalme
Narciso (1594-1596). Caravaggio.
nte satisfeito com sua imagem refletida no espelho não terá motivo para olhar-se neles nuca mais na vida. Alguém acredita nessa hipótese?

Há uma mística que envolve o espelho ao longo do tempo. Narciso não sabia o quanto era lindo e feliz até olhar-se no espelho das águas. Quando o fez, ficou encantado por sua própria imagem refletida nas águas cristalinas, atirou-se atirou-se nelas para abraçá-la e... morreu afogado.

O mito grego de Narciso, enganado pelo espelho, atravessa os séculos e foi incorporado à cultura humana por diversos campos. No campo científico, por exemplo, "complexo de Narciso" ou "narcisismo" é um transtorno da personalidade diagnosticado pela Psicologia e pela Psicanálise. No campo das artes, todas o trataram, das mais antigas ou clássicas, como o teatro e a literatura, às mais contemporâneas, como o cinema e a televisão.

Em Branca de Neve, a Madrasta malvada, ciumenta e maliciosa pergunta a seu espelho mágico quem é a mulher mais linda do mundo, e este a deixa transtornada quando revela que não é ela, mas uma linda, inocente e bondosa jovem chamada Branca de Neve. Branca de Neve é um conto de fadas dos Irmãos Grimm, que também já foi adaptado para todas as formas artísticas: teatro, dança, história em quadrinhos, pintura, cinema e animação - a mais famosa, a dos estúdios Disney, que se tornou um verdadeiro clássico do cinema de todos os tempos.


O conto "O espelho", de Machado de Assis, curtinho, de seis páginas apenas, faz parte dessa tradição universal em torno do tema "espelho". (clique aqui e leia-o integralmente). Mas não é porque tem só seis páginas que é um conto pequeno: é um grande conto, um clássico de nossa literatura, por causa da qualidade do texto e das reflexões que instiga no leitor.

Clique e assista ao clássico Branca de Neve e os Sete Anões (Disney, 1937/38).

Quem sou eu? O que vejo e acho de mim é verdade ou fantasia? Quem somos nós? Os outros são o que são, e ponto final, ou o que eu vejo ou acho deles é uma distorção da minha visão de mundo e dos meus sentimentos? Quem são os outros? Como os outros nos veem? O que os outros querem que sejamos ou acham de nós interfere no que somos? A nossa aparência e a nossa alma se correspondem ou uma pode entrar em guerra com a outra?

Em "O espelho", Machado de Assis, coloca um jovem diante de todas essas e outras perguntas perturbadoras, a partir da memória do adulto em que esse jovem se tornou. À medida que a narrativa progride, o leitor vai observando que a realidade tem brechas, por meio das quais o incerto, o mistério, o metafísico e talvez o sobrenatural escapam.

É para refletir? Com certeza, e também para cismar e... ter medo.


JEOSAFÁ é Pesquisador Colaborador do Departamento de História da Universidade de São Paulo, escritor e professor Doutor em Letras pela mesma Universidade. Leciona atualmente para a Educação Básica e para o Ensino Superior privados. Foi da equipe do 1o. ENEM, em 1998, e membro da banca de redação desse Exame em anos posteriores. Compôs também bancas de correção das redações da FUVEST nas décadas de 1990 e 2000. Foi consultor da Fundação Carlos Vanzolini da USP, na área de Currículo e nos programas Apoio ao Saber e Leituras do Professor da Secretaria de Educação de São Paulo.  Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, entre os quais O jovem Mandela (Editora Nova Alexandria);   O jovem Malcolm X A lenda do belo Pecopin e da bela Bauldour, tradução do francês e adaptação para HQ do clássico de Victor Hugo (Mercuryo Jovem). 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Fernando “Pessoas”: seu nome é legião

Susana Ventura, o mais recente heterônimo de Fernando Pessoa descoberto

Era novembro de 1935, fazia frio e o céu de Lisboa insistia no gris e no chuvisco, que são a placenta de tudo que é aziago, informe e desconhecido. Era manhã e a recomendação médica estabelecia internação irrevogável.

Então ela ajeitou carinhosamente os volumes inéditos em uma arca, conferindo a ordem para que não dessem trabalho a quem por Ventura os visitasse, em futuro próximo ou não. Estava tudo lá, linha a linha, página por página, tudo devidamente apontado e corrigido. Assim deveriam ser todos os espólios. Baixou a tampa, apertou-a e impulsionou a arca para o mar de penumbra do quarto mal amanhecido.

Dobrou e acondicionou na pequena valise as poucas roupas necessárias para a estada digna no Hospital. Fechou-a. Ajeitou os óculos de aros redondos na face, calçou os sapatos, vestiu o impermeável, trouxe a valise pela alça, apagou a lâmpada pálida, abriu a porta, passou por ela, puxou-a até que encostasse no batente sem produzir palavra, que pensam? coisas também falam, olhando para a chave e depois para o chão. O chuvisco na rua Coelho da Rocha era uma eloquência de pontos finais, não os visse quem não quisesse, não esta, que sendo Ventura, nunca para a desventura fechou os olhos.

Os poemas e outros escritos que ficaram na arca se salvariam, fossem quais fossem as posteriores notícias, afinal, para tanto servem as arcas. Porém os que ficaram na cabeça, os que se esvaíram durante o trajeto de pedras, os que penetraram a neblina da agonia, esses se perderam para sempre, pois uma coisa é ter o coração para aventuras, outra, para adivinhações.

Mas ficaram os rastros que, colhidos por Guazelli, comprovam a existência de mais uma pessoa em Fernando: Susana Ventura. Esta, ciente dos riscos de Alice através do espelho, não hesitou em colher dele um caco em que se mirar e, em forma de ensalmo evocatório, proferir as palavras mágicas: Eu, Fernando Pessoa. Passe um anjo, diga amém, e viva para sempre esse novo caco agora não  mais indescoberto.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Entrevista TARJA PRETA com o escritor Bruno Azevêdo


Neste blog review, ameças são cumpridas, por isso, tirem da sala crianças de calças curtas. Nesta semana, vaza para o ar a ENTREVISTA TARJA PRETA realizada em off pela internet com Bruno Azevêdo, escritor maranhense com cara de humorista piauiense.  Por uma razão de decoro, quando lerem nas respostas do entrevistado bocudo palavras de baixo calão tipo caralho, cu, merda, porra e congêneres deem o devido desconto e imaginem a palavra Piiii.

O que se pode esperar de um pobre menino de rua que venceu na vida e virou escritor? Incompetência da FEBEM (Falculdade Escola de Bublicidade e Magavilhas), que não o disciplinou na época certa. Agora, está solto por aí, publicando livros. Meu Deus do céu, onde é que vamos parar?

Caro cliente radiouvinte, para sua segurança, esta ENTREVISTA TARJA PRETA está sendo gravada.

Para maior comodidade, leitor, observe a legenda:

OH! GranDiOso FÁ = :0
Bruno Azevedo = :)


Um dois três, rodando...

*             *             *

:0 Li dois livros seus, Breganejo Blues e O Mostro Souza . Gostei de ambos, mas só entendi o primeiro quiá quiá quiá. Seguinte, que escrever para trás não dá: fiz uma resenha para o primeiro (tá aqui no blog, o leitor que se vire para achar), mas vamos falar um pouco sobre o segundo.

:) Eu só digo sim! manda! aliás, o Monstro está indicado como melhor publicação independente no HQmix deste ano. Chique.

:0  N’O Mostro Souza - uma pulp fiction, não? - gostei da quebradeira que é... De onde tirou uma idéia tão estapafúrdia como a desse Monstro com nome de ex-jogador rejeitado do São Paulo? Sim, porque se estava sobre o efeito de algum cigarro fedorento ou substância impublicável, teje perdoado, mas se estava de cara limpa, ai dio mio, interna!

:) Filme de monstro, trash, com peitos e ketchupe, essa era a idéia (com acento mesmo, sempre). No começo as pessoas teriam vinagretes pendurados ao pescoço e haveria os vampiros sugadores de vinagretes. Eu fazia parte de um grupo de quadrinistas que editava fanzines e em frente ao nosso local de reuniões tinha a barraca de rotidóg do Souza, onde a gente matava a broca depois das reuniões. Os vinagretes e tudo mais acabou virando um cachorroquente. Eu comecei a escrever o roteiro do filme e ele se metamorfoseou até virar o romance. Tudo movido ao mais barato vinho São Brás, que é a mais nobre encarnação do vinho.

:0 É o que eu temia. Não era possível você estar são, de posse de toda a sua integridade cerebral, para encarar o vinho São Brás sem mais aquela. Isso é que dá a mistura de cachorro quente e zurapa (aqui é com um "r" só mesmo). Quando o bicho carpinteiro do humor picou você? Em que lugar?

:) O bicho do humor não é um mosquito, é meio como um dinossauro que te engole todo. Merda. Eu sempre li muito gibi brasileiro de humor (Angeli, Laerte, a Mad etc. etc.), e pra mim tem mais à (ou a ver? crase é foda) ver com uma coisa pré-leitura. Se eu olhar alguém cair na rua, antes de acudir, eu rio.

:0 Corre o boato que humorista e  juiz de futebol não têm mãe. Por que vocês são assim?

:) Pu! Engraçado que é a primeira vez que me chamam de humorista. Engraçado que eu ache engraçado. E mãe eu até tenho, mas prefiro mesmo as dos outros.

:0 Além do Breganejo e do Mostro Souza, quais outros crimes andou cometendo depois que saiu da FEBEM (Falculdade Escola de Bublicidade e Magavilhas)?

:) Ando cometendo 3 livros no momento, 3 gibis longos: Poço, Terminal e o Baratão 66. Este último deve sair ainda esse ano com desenhos do Luciano Irrthum. É a história de um estabelecimento que de dia opera como casa de depilação e, à noite, como centro de entretenimento masculino.

:0 Upa! Tô dentro, da programação noturna, fique claro. Excetuada esta entrevista, você já enfrentou situações constrangedoras por causa do que escreve e desenha?

:) Não. Tenho tão poucos leitores que até agora ninguém se incomodou. Espero muito que alguém se bula um dia e me bata. Imagina escritor levando porrada por algo que escreveu! Que poder! Vai que eu até acho um editor depois da polêmica.

:0 É, editor gosta de bater em autor, principalmente na conta bancária. Cê tá no caminho certo para ser chutado. Chovendo meio no molhado – pois você se já referiu a isso quando da pergunta sobre o Monstro Souza – vamos aprofundar essa questão devagar, para o leitor não sentir o impacto todo de uma vez, no fundo do seu eu. Quanto de realidade há no que escreve, tirando as completas pirações suas, que já fazem parte dela. Como é o processo de converter um fato da vida, uma personagem do dia a dia em ficção? Não precisa falar da vizinha, que pode dar bode. Ah! Toma uns livros meus, pra deixar de ser besta.

:) Tem uma coisa que acredito: tudo que me coloniza é meu e é nessa filosofia de buteco que eu baseio todos os roubos. No Monstro Souza, todos os recortes de jornal são reais, todas aquelas referências à mídia são reais e quase todos os personagens são gente que existe de verdade e que, de lambuja, transita aqui por São Luís. Minha idéia a certo momento era devolver a pancada que eu tomei quando li Os Tambores de São Luís, do Josué Montello. Pra  mim foi (e é) um livro seminal, na medida em que foi a primeira ficção que consumi que tratava do lugar por onde eu transitava. E ver o local reconstruído me causou um impacto tremendo. Daí que eu num tenho a verve de lambe cu do Montello e a minha cidade é diferente da dele. Fui buscar nos jornais e butecos essa São Luís que eu queria bolinar.

Nesse processo (o livro demorou 10 anos no forno) rolou não só de a ficção se moldar pela realidade (encontrar um recorte sobre um cara na Suécia que morre soterrado por ervilhas, por exemplo, desvia a trama de qualquer livro), como de a realidade midiática ser moldada pelos interesses da minha ficção; algumas daquelas matérias foram forjadas ou reforçadas sem que os autores soubessem no que elas dariam. Gertrudes, por exemplo, é uma figura arquetípica aqui de SLz, tem uma em cada esquina. O lance de olhar pruma realidade tão absurda é que muita gente acaba vendo que o monstro do livro é a menor das coisas. Ôpa! Valeu pelos livros. Lerei. uhu!

:0 Sobre os livros que lhe dei, convém primeiro dar uma "vista d'olhos" para depois se certificar de que deve agradecer. Alías, não agradeci aos seus, mas foda-se. Quando vier a São Paulo, preciso te apresentar um cineasta amigo meu (Diomédio Piskator) que é você atrás da câmera, do ponto de vista da linguagem bocassujista, odoricoparaguaçumente falando, mas também do ponto de vista da cara: são parecidos até umas hora, ao menos em preto e branco. Voltando à entrevista. Não te dá uma certa exaustão física após finalizar um de seus crimes? Aliás, eles têm interface na internet? Se não têm, por que, vacilão? Seria legal conversar pelo teclado com o Monstro Souza ou com os Ad(h)ailtons e seus tons e seus dons genitais, diria o Caê!

:) Dá mais canseira não ter onde lançar e ter que enfiar a mão no bolso pra fazer tudo artesanalmente, quase só. Cansa tanto que até a descrição do processo é sem vírgulas. Eu não escrevo com frequência então as idéias (com acento de novo) e os livros demoram uma renca de tempo pra ficarem no pontos. Sobre a internet: o Breganejo Blues foi lançado simultaneamente impresso e em PDF pela Mojo Books(http://www.mojobooks.com.br). Hoje o livro tá também no Overmundo (http://www.overmundo.com.br/banco/breganejo-blues ). A versão PDF é bem diferente na diagramação, partes do texto e conteúdo. Ela contém, por exemplo, as letras das canções de Adailton &; Adhaylotn. Aliás, te mando o arquivo em anexo, espalhe, plis. Já O Monstro Souza não deu pra fazer em PDF porque era grande demais e a forma dos vários conteúdos do livro superam e muito a minha capacidade de diagramador e a paciência do Gabriel Girnos, co-autor do livro.

Daí que criamos um blog no www.romancefestifud.blogspot.com, que é um blog de pinups do monstro desenhadas por convidados fodões, o site é aberto a colaborações. Não deixem de desenhar seu monstrengo! Mando em anexo pro seu email. Além do ebook do Breganejo, há algumas imagens de capa e conteúdo pra tu ilustrar teus posts, ok? Se calhar eu mando os livros presse teu amigo cineasta. Quem sabe ele enche o rabo de grana do governo e filma esses troços, né?

:0 Ih, Tá fu. O Diomédio é da tradição da Boca do Lixo, o que significa que quer ver o governo, seja qual for, pelas costas. De todo modo já tinha falado com ele sobre tu, já que você pôs o “tu” no meio. Ele penetrou fundo no... seu blog. Vou fazer uma entrevista com ele e, como ele não gosta de aparecer, perigas que na entrevista dele eu lasque uma foto sua. Porém ele te achou feio para acaretc. Mas a “questã” não é essa. Que tipo de gentinha, além de mim, lê os seus livros. Sim, porque, sendo eu zé-povinho da gema, não me importo e até gosto de ler esses autores mal-amados que atacam as elites dominantes, sempre bonitas e limpinhas.

:) Pu! Na maioria das vezes, penso que gente alguma! Dia desses vi uma pequena lendo O Monstro Souza num ônibus. Me escondi. Eu adoraria conseguir responder isso aí.

:0 Ôpa! A menina que você viu lendo seu livro em um ônibus aí de São Luís deve ser a mesma que eu vi em outro ônibus aqui de São Paulo. Nesse caso, não é uma leitora, mas uma ASSOMBRAÇÃO! Se benze, nego! Você acha que a literatura serve para alguma coisa?

:) Essa menina que você viu ai estava lendo um dos meus livros? Uau! Se sim, bota visagem nisso! A literatura não serve pra nada além da masturbação incessante praticada por nós que a escrevemos, lemos e discutimos pelos botecos como se isso importasse pra alguém. Uma das coisas que me grila em qualquer discussão sobre a arte é a repetição incessante da palavra "importante". Nós temos a mania escrota de usá-la como se fosse a última defesa. No fim das contas, importante de cu é rôla [Leitores e principalmente leitoras, imaginem aqui a palavra Piiiii, tudo bem? Não esqueçam].

:0. Ah, uma ex-aluna minha vulgo Marina perguntou se tu é homem ou o quê... Por que se for, ela disse que você parece bom de apanhar, por causa do que , enquanto autor, fez com o coitado do Ada Hylton, que só leva a pior e nas piores posições. A Marina, antes que eu me esqueça, tem dois metros de altura, pratica alterofilismo e tá doida pra socar um artista, que faz tempo que ela não entra de sola num desses cabras que ficam se assanhando pra cima das minas dela.

:) Para a minha sorte e azar da Marina, estou longe pra caralho [Leitoras, não esqueçam de imaginar palavra Piiii]. Pra meu azar, sou homem mesmo, que melhor estaria se mulher fosse e pudesse gozar dessas prerrogativas de, independentemente do alterofilismo, poder socar as pessoas (artistas ou não) e depois chorar de arrependimento com a sunga na mão. A propósito, o Adhaylton só tomou onde mereceu, não é minha culpa se coincidiu de ser onde gostava.

:0 Porque as escolas evitam que obras mais polêmicas como a sua cheguem aos alunos, mesmo os do Ensino Médio, que já são uns baita duns marmanjos?

:) Porque as escolas ou as pessoas que escolhem o que se lê nas escolas são funcionários públicos e funcionário público nem gente é. Por mim mandava matar todos.

:0 Se eles escolhessem seus livros você tinha uma outra opinião sobre eles, mas foda-se [Piii]. Além de em Deus e em funcionários públicos, em que mais você não acredita nem a pau?

:) Eu acredito em quase nada. Bem, acredito em tudo que aparece no Jornada nas Estrelas: Deep Space Nine. E acredito no Roberto Carlos, até o disco de 1979.

:0 Sabia que você não era um cara normal. Depois dessa pisada, quer mandar um abraço pelas costas aos seus leitores? Manda ver em cinco segundos no máximo, senão eu edito.

:) Abraço. Não acredito nos leitores também.


:0 Caro leitor, viu como ele é ingrato? Assim caminham os escritores do Piauí, ops. Maranhão. Só porque estão mais próximos de Nova Iorque do que o resto do Brasil. Agora, falando sério, dá uma clicadinha aqui embaixo, dá, vai... Só uminha...:


REFERÊNCIA: Bruno Azevêdo. Monstro Souza, São Luiz, Ed. Pitomba, 2010.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Do lirismo à galhofa, num salto de Jerônimo

Este blog salta do lírico para a galhofa gritando: JERONIMÔÔÔÔÔ, o que explica a presença de Vinicius de Moraes neste espaço por uma semana e até hoje, e a de Bruno Azevêdo de hoje até quarta-feira próxima, isso se o Armagedon não acontecer ou se dele escapar este virtual espaço de meditargumentação litero-humorístico-cineclubeástica.

Escritor maranhense com cara de cineasta da boca do lixo paulistana, só porque São Luís está mais próxima de Nova Iorque do que São Paulo, Bruno Azevêdo se acha no direito de entrar de sola na cultura texana ianque pelo atalho goiano das duplas sertanejas de música de corno. Tudo bem, galhofa também é cultura.

Faço aqui uma digressão: dizem que vem da terra dos Sarney, mas também de Aluísio Azevedo, vamos mostrar o lado bom de todas as coisas, a anedota segundo a qual a espingarda de cano duplo foi inventada para matar dupla caipira. Maledicência contra os maranhenses, pois essa piada existe desde que os filmes de caubói entortaram a cabeça dos filhos dos verdadeiros caipiras, com micagens de chapéu de mocinho do velho oeste.

Breganejo Blues é um deboche hilário de Bruno Azevêdo, que junta dupla sertaneja oportunista com quadrinhos Tex, bate tudo no liquidificador de uma linguagem esperta, cheia de segundas intenções, despeja num copo de coquetel paródico, chacoalha mais um pouco e põe sobre o balcão do boteco maranhense, à frente do qual o leitor está sentado, e diz, toma aí, hombre, de una sola vez, sem gorgolejar.

Não sei porque, o andamento enredo me lembra A grande arte, de Rubem Fonseca. Há um clima de perseguição policial interessante, meio noir, muito embora o escracho explícito compareça a cada parágrafo, enquanto no escritor mineiro radicado no Rio esse escárnio de linguagem seja mediado pelo lirismo que, afinal, sobreleva, afinal, todo escritor mineiro tem dívidas enormes com Tomás Antônio Gozaga, não nega, e vai pagando de pouquinho.
Adailton, espada, e Adahilton, vulgo Ada Hilton, transformista assumido, porém clandestino, estão envolvidos em trapaças típicas do show business tupiniquim: jabaculê para emplacar sucessos, músicas compradas a terceiros, bacanais orgiásticos encobertos pela imagem de dupla sertaneja bom-mocista, tráfico de drogas com escolta policial em avião de turnê e otras cositas más.

Noutras palavras, nem metade do que essas turmas fazem de mal ao país e aos ouvidos está na vitrine, mas o leitor fica autorizado, pela amostragem, a inferir o que rola nos bastidores das duplas de sucesso que estragam nosso gosto musical com aquelas caras de vaqueiros texanos e com aqueles falsetes que não enganam ninguém, a não ser quem gosta desse gênero (se é que é gênero) musical (se é que é música) – aqui a gente é assim, arruína a imagens, arruma inimigo, mas conta a piada inteira.

Quem leu Galvez, Imperador do Acre, de Márcio Souza, não se frustará ao ler Breganejo Blues. Estão na mesma corrente da literatura picaresca, que no Brasil tem pratos e pratos e pratos cheios de assunto para chorar de rir, ou só chorar, ou só rir, a depender de o freguês conseguir engolir tudo sem gorgolejar.

De quebra, o leitor passeia pela mão de um narrador envolvente e matreiro por lugares proibidos, aos quais, no entanto, teria medo de ir sozinho, ou nos quais teria vergonha de ser flagrado acompanhado.

Como se está, porém, no mundo cínico da literatura picaresca, esse adjetivo cheio de segundas intenções, ninguém vai reparar quem está segurando na mão ou em outras partes de quem, que esses preconceitos no Brasil já acabaram, só não avisaram o Jair Bolsonaro e o lobie religioso  ultraconservador mal humorado, positvos e operantes por todo lugar, lobie para o qual, diferente de Mário de Andrade, os problemas do Brasil são três: a falta de fé e moral, as droga e o homossescualismo.

A não ser que se leia o livro no ônibus e um curioso ou uma curiosa pegue os olhos nas letras mal sediciosas dessa novela trezoitão, cano duplo, está o leitor liberado para ler o dito cujo no busão. Além do mais, o ônus de quem fica fuxicando as intimidades das páginas alheias recai sobre o próprio fuxicante.

No final deste mês, publico nesta mesma bat hora e neste mesmo bat blog ENTREVISTA TARJA PRETA com Bruno Azevêdo. Se você não sentir dor de barriga de tanto rir, cara e caro radiouvinte, mando a produção devolver o dinheiro da entrada. Aliás, para receber esse valor, o leitor deverá enviar mensagem para: http://bazevedo.blogspot.com, que não sou trouxa.

FONTE: Bruno Azevêdo. Breganejo Blues - Novela trezoitão. São Luís. Ed. Pitomba, 2009.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O corvo, de Allan Poe CENSURADO



Quando da morte de Peter Sellers, em 1980, um jornalão de São Paulo estampou sua foto humoristicamente séria sobre uma frase em letra garrafais a ele atribuída:

"Pobre de quem acredita que no mundo há um grama de seriedade.

Acometido pelo espírito (para os espíritas), ou do exemplo (para os materialistas) do grande ator cínico, antes de inglês, decidi ingressar em minha fase zen. Isso mesmo, chega de chorar o Ferreira derramado, até porque só o Ferreira passado movia-se contra moinhos. O atual vive em redemoinhos.

Caros telespectadores e radiouvientes, estou zen. Bem-vindos à tenda do OH! GRANDIOSO FÁ! Para provar que superei minha fase anterior, séria, de óculos, gravata e em fundo branco e preto, mudo de assunto. O assunto de hoje é a censura.

Viram como estou humorado: disse que ía mudar o tema, mas não mudei. Isso deve produzir algum efeito humorístico, segundo os estudos feitos pela USP sobre o assunto. Em breve um pesquisador da FFLCH dessa séria instituição deve procurar quem me ouve agora ao vivo e em cores para medir o índice de riso provocado por essa artimanha da linguagem.

Se não riram antes, rirão agora da história que vou contar, baseada em fatos verídicos. Os nomes das instituições e das pessoas serão preservados para não expô-las à galhofa, muito embora ela, a galhofa, derive de ações e patacoadas dos mesmos aqui protegidos pelo segredo jornalístico.

Participei ano passado da banca de seleção de obras literárias para a Secretaria de Estado da Educação de São Silvestre. Foi um trabalho bacana, em que pesem duas figuras de pastelão de filme mudo que puseram lá para melar com chantily de torta o trabalho da banca selecionadora.

Atiçadas diretamente pelo então secretário Fulano de Tal Apegado à Torta, essas duas persongens, cujos nomes fictícios são Goseli e Tara, saídas com certeza de um filme dos Irmãos Marx, deram asas a seus delírios hipocondríacos.

Quem assitiu à minha postagem anterior está por dentro do assunto. Quem não leu, então que leia, ora essa! Continuando o filme de pastelão comandado pelo secretário Groucho Atirador de Tortas, Goseli e Tara saíram caçando livros com suas vassouras (digo, tesouras, vejam o que é o ato falho) voadoras. Do seu gabinete, o Groucho sem graça atiçava: "Vai, fundo, meninas com a tesouras".

Além de Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Ferreira Gullar antes da crise de consciência, Vinicius de Moraes, entre muitos outros, para elas, "imoraes", um veto de espetacular candura causou assombro - porém depois deliciosas gargalhadas entre os membros da banca do certame (membro, essa palavra insidiosa de ser prounciada nos corredores da Secretaria da Educação de São Silvestre City).

O diálogo é  quase inventado, mas é quase esse, tirando algumas quase vírgulas. Tara, olhos arregalados, exofitálmicos, alterada, falando e cuspindo ao mesmo tempo, atirava sua torta, enquanto sua parceira de vassoura voadora, digo, tesoura (vejam o que é o ato falho), Goseli Goselina, se escondia atrás do livro candidato a apara de papel:

Tara Equestre: Esse livro não pode ser enviado aos alunos da rede pública. É pornográfico.

Séria Indignalda (titular da banca): Qual o problema desse livro?

Tara Equestre: Não está vendo? Está na cara!

 Séria Indignalda: Como assim, na cara?

 Tara Equestre: Ora, esse Allan Poe dos quadrinhos tem um pênis na cara!

Séria Indignalda: Ora, você está surtada, sua louca!

OH! Grandioso Fá: Ora, cada um vê o que quer na cara de quem quiser. Já que falei em ver, cara Tara, viu quem traduziu esse livro?

Tara Equestre: Não!

OH! Grandioso Fá: Ora, foi o Machado de Assis! Também está na cara, ou melhor na capa. Então você fica de olho no nariz avantajado do personagem e esquece do texto? Não é qualquer textículo não, minha cara Tara, é um baita textão clássico e glandioso! (vejam agora o que é um ato fálico com justa motivação).  Mas que bela atiradora de tortas está me saindo, cara Tara!

Goseli Goselina: Ora, veja bem, com um pênis desse tamanho no cara do leitor...

Mara Tara: Do leitor, não, colega, do Allan Poe.

Fábio Lobo (outro titular da banca): Vocês vão censurar um livro por causa de um delírio proveniente de recalque sexual e... e... (o coitado até gaguejou) surto psicótico?

Tara Esquestre e Goseli Goselina (em coro ensaiado lá no gabinete do secretário das tortas): Ah, é, não é? Se é assim, agora é que vamos para as cabeças mesmo. Tá censurado, se insistirem, melamos o processo.

Séria Indignalda: Aí, me segura que vou ter um troço.

Outros dois membros da banca, até ali só ouvindoOH! Grandioso Fá, você nos convida para um filme de pastelão, oras bolas! Nossa simpatia por sua titulação da USP e pelos parcos larjans que vão nos pagar a... a... (os caras também engasgaram) assim periclita, bacana!

Outros titulares até ali pasmos sem entender patavinas: OHHHHHHHHHHHHHHH!

OH! Grandioso FÁ (entrando de sola, mas bem zen): Calma, gente, é só um surtinho que vem lá das altas esferas, para não falar bolas, o que soaria indecente em conformidade com o delírio peniano. É só um surtinhozinho, já já passa... Vamos abrir as janelas e tomar um ar que dessufoca...

Séria Indignalda: OH! Grandioso Fá, não estudei para tamanha provação. Nunca imaginei nem durante a ditatura mais cruel ceder ouvidos a tanta patacoada... Essas duas que vão fazer psicoterapia, vão de retro, discípulas de Torquemada! Arre! Ainda não desisti de ter um troço imediatamente não!

Tenho que me curvar às evidências: o surtinho não passou coisa nenhuma. E o diagnóstico  do furibundo acometimento abunda ainda no insuspeito órgão da constitucionalissimamente São Silvestre.

Telespectadores e radiouvintes, foi um sufoco. Vocês não imaginam o que é a gente se ver  subitamente no meio do fogo cruzado de um filme de pastelão. Elas duas lá, mandando ver nas tortas e o restante da banca só se desviando para escapar do chantily azedo que o secretário Preparador de Tortas precariamente cozidas.

Resumo da ópera bufa, em volume alto para todo mundo ouvir:

O CORVO, DE ALLAN POE, COM TRADUÇÃO DE MACHADO DE ASSIS, EM QUADRINHOS, FOI CENSURADO PORQUE DUAS... DUAS... DUAS... (gente, até engasguei) SAÍDAS DE UM FILME DO GROUCHO MARX FORAM POSTAS NA BANCA PELO SECRETÁRIO PÂNDEGO PARA ARREMESSAR TORTAS LOUCAS!

Telespectadores e radiouvintes, o volume agora retorna ao normal, bem zen, como prometi.

A ilustração da discórdia está no alto deste artigo. Deem uma boa olhada nela e no órgão nela supostamente implantado pelo excelente ilustrador Luciano Irrthum. Comparem agora com órgão olfativo da foto do poeta norte-americano a seguir:



Que acham? É para rir ou para chorar? Sei lá. Sabe, gente é tão difícil ser zen...

Encerram-se neste momento as tramissões transcedentais da tenda meditativa do OH! Grandioso FÁ.



LANÇAMENTO
Era uma vez no meu Bairro
ZONA NORTE – Nova Edição
ZONA LESTE – Inédito
Dia 18 de outubro de 2011
19:30h
Livraria do Espaço Unibanco de Cinema da Rua Augusta
SÃO PAULO - SP

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Toda Mafalda, de Quino



Trad. Andréa Stahel e outos

Toda Mafalda traz, em uma excelente edição de capa dura, toda a produção do importante cartunista Quino (Joaquín Salvador Lavado, nascido em 17 de julho de 1932, na província de Mendoza, Argentina). Uma breve resenha introdutória apresenta a famosa personagem, e uma pequena cronologia versa sobre o artista.

Mafalda, uma simpática, crítica e esperta menina preocupada com os problemas da humanidade, foi criada em 1962. Na oportunidade, ela deveria fazer o papel de “garota propaganda” de anúncio a ser veiculado no jornal Clarín. Mas não deu certo, e a personagem só nasceu para seu público mesmo em 1964, no jornal Primeira Plana, aqui já na forma de cartum.

Outros personagens da tira foram aparecendo logo em seguida, e não tardou para que a HQ fosse publicada também em outros jornais argentinos e, depois, de outros países – inclusive no Brasil, em plena ditadura militar.

Mafalda, ao ganhar o coração dos leitores latino-americanos, saltou para Estados Unidos e Europa, ganhando o mundo. Em 1973, O cartunista decidiu encerrar a série, participando apenas eventualmente em publicações humanitárias, em particular relacionadas à UNICEF.

Nessa surpreendente HQ, que mescla política, socidade e filosofica, o humor e a ironia estão presentes, tanto no texto dos balões, quanto nas expressões das personagens, sempre a dirigirem suas críticas e ironias ao público adulto, a quem, em tese, caberia cuidar melhor dos destinos dos semelhantes e do planeta.

Tanto as temáticas destacadas quanto a articulação entre texto verbal e texto gráfico permitem amplo raio de ação pedagógica dos professores de Língua Portuguesa, História e Arte, e ainda de Filosofia e Sociologia.

FONTE: Quino. Toda Mafalda. Trad. Andréa Stahel et. Al. São Paulo, Ed. Martins Fontes, 1993.