Caso Especial (Rede Globo, 1978). Direção: Walter
Avancini; Música: Dori Caymmi; Elenco: Paulo Gracindo,
Dionísio Azevedo, Dina Sfat, Flávio Migliaccio, Ana Maria Magalhães, Stênio
Garcia, Antônio Pitanga.
Lançado em 1961 com amplo acolhimento de leitores e
críticos, a novela
A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água tornou-se uma das
obras de Jorge amado mais festejadas, editadas e adaptadas para o cinema e a
televisão. Em artigo escrito para o jornal Última Hora, do Rio de Janeiro, em 1959,
que passou acompanhar a título de prefácio as seguidas reedições, Vinicius de
Moraes considera-a uma obra prima do autor: “Em dois tentos simples, Jorge
Amado acaba de escrever o que para mim é o melhor romance e a melhor novela da
literatura brasileira:
Gabriela, cravo e canela e A morte e a morte de Quincas
Berro D’água”.

Filme (2010) Direção: Sérgio Machado; Roteiro: Sérgio
Machado; Produtor: Mauricio Andrade Ramos e Walter Salles. ELENCO: Paulo José
(Quincas); Luis Miranda (Pé de Vento); Frank Menezes (Curió); Flavio Bauraqui
(Pastinha); Irandhir Santos (Cabo Martim); Marieta Severo (Manoela); Mariana
Ximenes (Vanda); Vladmir Britcha (Leonardo); Walderez De Barros (Tia Marisa); Milton
Gonçalves (Delegado Morais); Othon Bastos (Alonso).
Nessa novela curta, o autor articula a natureza popular das
personagens com um enredo à beira do fantástico e uma linguagem enxuta, porém
ambígua, agradável e leve. Nela, o previsível funcionário público Joaquim
Soares da Cunha, marido, pai e cidadão cumpridor de seu papel social de
burocrata estabilizado na sociedade, aos cinquenta anos joga tudo para alto, se
entrega à boêmia e passa à perambulação, ébrio e em andrajos, pelas ruas da
Bahia. Numa das bebedeiras, ganha o apelido que o acompanhará além da
morte:
Quincas Berro D’água. A novela se
inicia com seu cadáver em farrapos já estendido em um quarto insalubre de um
beco baiano.
Na morte de Quincas, os parentes enxergam a oportunidade de
resgatar no meio social o nome da família, maculado por suas orgias e por sua
vida escandalosa. Para tanto, organizam um funeral à altura de um verdadeiro e
honrado um ex-funcionário público.
No entanto, visitado em seu velório por antigos amigos de
fuzarca (Curió,
Negro Pastinha, Cabo Martim e Pé de Vento), que veem no ricto estampado no rosto do cadáver um sorriso folia,
Quincas termina sequestrado por eles e arrastado pelas ruas da Bahia em uma
espécie de despedida gloriosa, hilária e pândega do mundo dos vivos.
A confusão se instaura, pois enquanto uns o juram morto,
outros o veem passeando de braços dados com os companheiros de boêmia, entre
gargalhadas e cusparadas de cachaça. A esbórnia se encerra no barco de Mestre
Manuel, onde os amigos cumprem a suposta vontade do morto, levando-o em festa em
pleno mar, ocasião em que um violento temporal se abate sobre o barco e encapela
as águas, para onde o debochado Quincas resvala para sempre, enterrando no mar,
consigo, a chance de a família ajustar contas com o falso verniz da sociedade.
Nesse destino de Quincas Berro D’água há uma certa metáfora
do projeto literário do próprio Jorge Amado, que, à literatura enfatiotada e blasé,
que sempre combateu, preferiu os personagens populares, os enredos apoiados na
realidade dos trabalhadores e a crítica social – em que o humor se foi
insinuando progressivamente ao longo da carreira do autor.
Referências bibliográficas
Amado,
Jorge.
A morte e a morte de Quincas Berro d’Água. In
Os velhos marinheiros (o
romance O capitão de longo curso), São Paulo: Martins, 1961.
Duarte, Eduardo Assis. Jorge Amado: romance em tempo de utopia.
Natal: UFRN-Editora Universitária, 1995.
Gomes, Álvaro Cardoso. Jorge Amado.
2 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
Itazil Benício. Jorge Amado: retrato incompleto. Rio de
Janeiro: Record, 1993.
Lafuente,
Fernando Rodrigues (Coord.). Jorge Amado. Madri, Instituto de Cooperación
Iberoamericana. 1987.
Martins,
João de Barros. Jorge Amado: trinta anos de literatura. Rio de Janeiro, Record,
1993.
Raillard,
Alice. Conversando com Jorge Amado.Trad. Annie Dymetaman. Rio de Janeiro,
Record, 1991.
Táti, Miécio. Jorge Amado, vida e obra. Belo Horizonte,
Itatiaia, 1961.
_________ O
baiano Jorge Amado e sua obra. Rio de Janeiro, Record, 1980.
Tavares, Paulo. Criaturas de Jorge
Amado. Dicionário de todos os personagens imaginários....
São Paulo, Livraria Martins Editora, s. d.