E você, teria ciúmes de Capitu? Clique no vídeo acima e pense, pense, pense...
Capitu traiu ou não? Numa disputa entre dois colégios, estudantes devem debater a questão e encenar o julgamento da personagem Dom Casmurro, do romance de mesmo nome de Machado de Assis. Entre eles está Queco, que vive um drama parecido com o de Bentinho.
O ciúme é com certeza o sentimento mais complicado de lidar e entender. Todos estamos sujeitos a sofrer por ele, seja em uma relação afetiva, seja em um caso amoroso. A questão fica ainda mais dramática quando se trata de uma aventura adolescente sem limites.
Moacyr Scliar, premiado autor infanto-juvenil e membro
da Academia Brasileira de Letras, faz uma homenagem ao renomado escritor
Machado de Assis e seu clássico Dom Casmurro, escrevendo uma história sobre o
ciúme e tudo que esse sentimento é capaz de levar um ser humano a fazer. A obra
conta a história de um grupo de amigos de Itaguaí (RJ) que participa de um
concurso -- cujo prêmio em dinheiro possibilitaria a reconstrução de sua
escola, soterrada durante um temporal. O objetivo da disputa é provar se
Capitu, personagem marcante de Dom Casmurro, traiu ou não Bentinho, seu marido.
Entre os jovens participantes está Francesco, ou Queco (menino inteligente e
sonhador), seu amor de infância Júlia, e seus amigos Vitório e Fernanda.
Durante os estudos para o 'julgamento', Queco, identificado com o drama de
Bentinho, começa a visualizar olhares e atos suspeitos entre sua amada e
Vitório. Tomado por ciúme, o jovem forjar um documento com a assinatura de
Machado de Assis, para incriminar Capitu e vencer o concurso. Até que o grande
dia chega, e Queco tem de incorporar a farsa diante de uma platéia lotada. Será
que ele consegue? (Fonte: Anglo São Roque).
Moacyr Scliar dá umas dicas sobre O ciumento de carteirinha.
No romance de Machado de Assis, o personagem-narrador, Bentinho, ao envelhecer se torna no introvertido, ranzinza e amargurado (casmurro, no dicionário tem esse significado). Porém a personagem que domina o romance, não é ele, mas seu amor de adolescência, Capitu, por quem ele nutrirá um ciúme perverso, isso por duas razões.
Primeira: porque, nas palavras do personagem-narrador (que podem ser verdadeiras ou frutos do despeito), no velório do amigo, Escobar, morto por afogamento, Capitu teria ficado mais abalada do que a própria esposa do amigo.
Segunda: em razão da semelhança que ele passa a ver, ou imagina ver, ano após ano, entre seu filho e seu melhor amigo, morto por afogamento. Leia o que um artigo da revista Piauí diz sobre isso:
Bento Santiago, protagonista e narrador do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, trabalhava em casa quando foi interrompido por um escravo que fazia alarido ao portão. O criado, propriedade de seu velho conhecido Escobar, estava aflito e pedia ajuda. “Para ir lá… sinhô nadando, sinhô morrendo”, anunciou. Bento correu à praia do Flamengo o mais rápido que pôde, mas não havia mais nada a fazer além de confirmar a morte do amigo. Arranjou-se velório e enterro para o mesmo dia e, “na hora da encomendação e da partida”, o desespero de Sancha, esposa do falecido, “consternou a todos”, levando homens e mulheres ao choro. É nesse momento tumultuado que ocorre o fato decisivo da narrativa: Bento notou “que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã”. Nascia nele a dúvida sobre a traição. (Fonte: Revista Piauí)
Essa história clássica de ciúmes foi parar nas salas de teatro, pelo gênio de grandes dramaturgos (diretores de teatro) na forma de drama ou comédia, nas páginas de histórias em quadrinhos pelas mãos de excelentes desenhistas e roteiristas, na TV e no cinema, que no Brasil tem uma bela histórias de grandes diretores e atores, em várias
adaptações, por exemplo esta:
Clique no vídeo acima e assista à adaptação Capitu (1968), de Paulo César Saraceni.
Até a música popular brasileira (MPB) buscou decifrar o enigma Capitu. Na voz de Zélia Duncan e letra de Luiz Tatit, Capitu é uma jovem moderna despertando ciúmes pelas redes sociais e sites da internet dos dias de hoje:
Zélia Duncan tenta decifrar Capitu no site www.poderosa.com. Clique no vídeo acima tente também.
Em Ciumento de Carteirinha, Moacyr Scliar atualiza e adapta esse clássico de nossa literatura para uma faixa etária e um tempo novo. E ele faz isso porque, depois de Dom Casmurro, não se pode mais tratar do tema do ciúme no Brasil sem se falar de Machado de Assis. Depois de Capitu, o ciúme nunca mais foi ou o mesmo, porque a mulher brasileira também nunca mais foi ou será.
JEOSAFÁ é Pesquisador Colaborador do Departamento de História da Universidade de São Paulo, escritor e professor Doutor em Letras pela mesma Universidade. Leciona atualmente para a Educação Básica e para o Ensino Superior privados. Foi da equipe do 1o. ENEM, em 1998, e membro da banca de redação desse Exame em anos posteriores. Compôs também bancas de correção das redações da FUVEST nas décadas de 1990 e 2000. Foi consultor da Fundação Carlos Vanzolini da USP, na área de Currículo e nos programas Apoio ao Saber e Leituras do Professor da Secretaria de Educação de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, entre os quais O jovem Mandela (Editora Nova Alexandria); O jovem Malcolm X, A lenda do belo Pecopin e da bela Bauldour, tradução do francês e adaptação para HQ do clássico de Victor Hugo (Mercuryo Jovem).