Para quem busca adquirir um segundo idioma, sem se estar em terras em que ele vigora, ler e escrever não chega a ser um grande problema, desde que se domine bem a própria língua materna e, de meu estrito ponto de vista, esse segundo idioma seja uma das línguas neolatinas ou o inglês. Pena-se para se compreender a morfologia, o vocabulário e a sintaxe, porém sente-se o progresso ao longo do estudo e, ao cabo de um ano de empenho, alguma segurança e independência na leitura e na escrita já se observa.
Porém, no que tange à audição e à conversação, o cenário muda substancialmente. O progresso aí é lento e as conquistas, mínimas. A articulação audição-fala, no mais das vezes, se mostra escorregadia e, nesse binômio, a audição é que se mostra mais desafiadora. Identificar no continuum sonoro os signos linguísticos encadeados num fluxo e cadência típicos do idioma enche o coração do aprendiz da mais profunda sensação de fracasso.
Se o registro escrito permite o acesso ao dicionário para compor o sentido de um discurso ou texto em língua estrangeira, a natureza imediata da fala ergue-se como obstáculo intransponível para o iniciante — e mesmo para estudantes de nível intermediário —, que se perdem ao ouvir uma ou outra palavra familiar em meio a um fluxo avassalador de sons incompreensíveis.
Por essa razão, tenho comigo que, em se tratando de aquisição de um novo idioma, ouvir clara e falar fluentemente é a fronteira final.
Jeosafá Fernandez Gonçalves é Doutor em Letras pela USP Pós-Doutor em e História pela mesma Universidade. Escritor e professor lecionou para a Educação Básica e para o Ensino Superior privados. Foi da equipe do 1o. ENEM, em 1998, e membro da banca de redação desse Exame em anos posteriores. Compôs também bancas de correção das redações da FUVEST nas décadas de 1990 e 2000. Foi consultor da Fundação Carlos Vanzolini da USP, na área de Currículo e nos programas Apoio ao Saber e Leituras do Professor da Secretaria de Educação de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, entre os quais O jovem Mandela (Editora Nova Alexandria); O jovem Malcolm X, A lenda do belo Pecopin e da bela Bauldour, tradução do francês e adaptação para HQ do clássico de Victor Hugo (Mercuryo Jovem).