terça-feira, 19 de agosto de 2014

Paisagem Noturna

Em 1986, num final de ano quente, talvez dezembro, passando pela rua Boa Vista, flagrei uma lua absurda subindo ao lado do edifício São Vito, no parque Dom Pedro II, em São Paulo —o conhecido Treme-Treme, demolido há alguns anos.

Rascunhei em uma caderneta um esboço e preenchi depois com letras. Foi-se a lua, foi-se o São Vito, mas ficou o poema. A outra metade da lua estava escondida atrás do edifício.

Quem viu a lua nascer nesse vale — onde Castro Alves se feriu com a própria arma  viu, quem não viu, não sabe de onde tiraram a ideia de surrealismo.

Era uma imagem impressionante: uma imensa esfera cor de ferrugem que, ao deslizar para cima na empena do prédio, diminuía de tamanho e ia ficando amarelada até, já acima do Treme-Treme, assumir a cor de prata que explica muito da hipnose que ela exerce sobre lobos e casais enamorados.

Quem namorou sobre aquela ponte, bem ao lado do Pátio do Colégio, vendo a lua subir bruxuleante, fez muito bem.
Cíbio Bote.



Edifício São Vito, São Paulo, popular Treme-Treme, cuja demolição terminou em 2011. À direta, ao fundo, o Mercado Municipal.




sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Retrato em branco e preto

O amor, quem não é amador sabe, pode dar em flores e graça, mas também em guerra e desgraça. Que o digam Tristão e Isolda, Capuletos e Montecchios, que, na massa sonora de Prokofiev, Suíte n.o 2 de Romeu e Julieta, ganham proporções trágicas monumentais, mas profundamente humanas. Fiz este poema-retrato em memória e rito fúnebre a uma paixão que, pior do que não ter dado em nada, deu em tragédia. Cai o pano.
Cíbio Bote




quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Mosca é feita pra voar

Quem já viu gato caçando mosca sabe de que mosca e de que gato está falando. Neste poema a mosca em suas circunvoluções desenha o gato, que já foi estampa em minha camiseta preta, gatopoema caçador de moscaletra.
Cíbio Bote