terça-feira, 12 de agosto de 2014

Minhocão vai desaparecer, olê olá!

Em 1986, saía do cineclube Oscarito, na praça Roosevelt, onde tínhamos lutas e brigas homéricas pelos rumos do cinema brasileiro, e ia bater cabeça pela cidade. Um de nossos sonhos era ver o Minhocão implodido e devidamente removido da cidade. Ontem, deu no noticiário que o novo Plano Diretor prevê sua desativação (leia aqui).

Este poema de 1986, então delírio de jovem cineclubista, ganha agora jeitão de profecia.
Cibio Bote.



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Sombra de passeio de inverno

Nem em meu mais alucinado pesadelo delirei que um dia o cine Metrópole ia fechar. Era uma tarde-noite de domingo de início dos anos 80 e, em meio ao chuvisco que não molhava mas picava o rosto, com as mãos nos bolsos girando moedinhas, eu andava pela praça Dom José Gaspar, sedento para ver um filme naquela sala escura onde se sonha de olhos abertos — o comércio todo fechado, salvo um mísero café bem próximo da galeria. Era o final da tarde, mas a iluminação pública já funcionava porque fazia escuro. Minha sombra dobrou-se, metade no chão, metade na parede de um edifício. Entrei no café, pedi um bem forte, que tomei apressado, fiz o poema num guardanapo, que enfiei no bolso já sem as moedinhas, e fui ver um filme. O filme, nem me lembro qual, o cine Metrópole se foi, já a lembrança daquela tarde e o poema ficaram... aqui e no coração.


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Leitura no Metrô

APANHO ÔNIBUS LOTADO DO MORRO DOCE À LAPA. NA LAPA, APANHO O TREM DA CPTM SUPERLOTADO ATÉ A BARRA FUNDA. NA BARRA FUNDA, PEGO O METRÔ LOTADO ATÉ A ESTAÇÃO D. PEDRO. LÁ, APANHO O ÔNIBUS JD. CELESTE, MENOS LOTADO, MAS TAMBÉM DE PÉ ATÉ O IPIRANGA. DUAS HORAS PARA IR, DUAS PARA VOLTAR PARA CASA, EM CAMINHO INVERSO. COMO SUPORTO ISSO? LENDO: 4 HORAS DE LEITURA POR DIA EM PÉ.

Dois túneis se completam, o que leva sob a cidade a alguma parte dela, o que penetra-se pelo vórtice das letras pretas nas página brancas - e que não se sabe aonde vai dar. Quem nunca perdeu uma estação por ficar preso no segundo túnel, que atire a última faísca.

Cibio Bote