Hoje tive uma ideia que talvez ponha em prática numa de minhas turmas do Ensino Fundamental. Consiste essa ideia em estimular a fantasia dos alunos por meio de histórias sugestivas, oníricas, fantásticas, ou meramente fantasiosas, plenas de imagens visuais e sonoras, que remetam à memória ou à invenção de futuros imediatos ou remotos.
Feito isso, orientaria os alunos a empregarem estratégias para disfarçar suas letras, de maneira que se tornasse impossível, mesmo para os melhores amigos, reconhecer pela grafia o autor ou a autora da história que viesse a ser escrita - e aqui já estou denunciando o terceiro estágio dessa ideia: alunos e alunas seriam instados a produzir narrativas curtas, a partir dos estímulos oferecidos, e a registrá-las em letras disfarçadas. O penúltimo estágio dessa ideia seria cada aluno, cada aluna, assumir um codinome (que apenas ele ou ela e o professor saberiam). O último estágio corresponderia à circulação e leitura dos textos, livremente.
Fico imaginando o que essa despersonalização da autoria acrescentaria em termos de liberdade de escrita a cada um dos autores e autoras. Naturalmente o jogo de esconde-esconde não sobrevive se a possibilidade de ser descoberto não estiver implícita. Na verdade, o que confere graça ao jogo e exatamente esse risco. Seja por pistas deixadas inadvertidamente em meio à grafia disfarçada, seja pela menção e episódios comuns entre colegas, seja pelo uso de certa expressão, ou mesmo vício de linguagem, nem todos os pierrôs e colombinas permanecerão eternamente indescobertos - e é mesmo possível que nenhum deseje permanecer eternamente nessa condição de anonimato.
Haverá um momento em que as máscaras hão de querer ser retiradas, uma vez que o narcisismo de adolescentes é uma balestra cujo gatilho é de acionamento irrefreável: quanto mais esticada a linha e curvado o arco, mais próximo o momento fatal do disparo.
Querem saber de uma coisa? Não vou fazer coisa nenhuma. Dá muito trabalho.

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