Se o sentimento incontrolável de traduzir pode ser desculpado, a tradução não tem esse benefício, pois pode ser julgado pelo leitor. Honesto que sou, dou ao leitor essa prova do crime: minha tradução. Porém, para que não me pese sobre os ombros uma sentença dura, dou ao leitor também, antes de meu crime, o texto em francês e a tradução de Guilherme de Almeida.
Leitor, deleite-se com os dois primeiros, e não julgue com excessiva severidade o último. Voilà.
L'albatros
Charles Baudelaire
Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.
A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.
Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!
Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher.
Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.
A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.
Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!
Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher.
BAUDELAIRE,
Charles. "Les fleurs du mal". Oeuvres complètes. Paris: Robert
Laffond, 1980.
O albatroz
Tradução: Guilherme de Almeida
Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico em cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!
O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
A asa de gigante impedem-no de andar.
Tradução: Guilherme de Almeida
Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico em cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!
O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
A asa de gigante impedem-no de andar.
O albatroz
Tradução: JeosaFá
Acontece de, gozação de marujos de convés,
Caçarem albatrozes, imensos pássaros dos mares,
Que seguem, preguiçosos companheiros de marés,
O navio deslizante sobre fossas tumulares.
Uma vez presos e jogados sobre pranchas da embarcação
Esses reis do anil, zonzos e desengonçados,
Despencam suas alvas asas tangidas de desolação
Para escorregando se equilibrarem com esses remos improvisados.
Que João-bobo, esse pássaro, forçado a voos de galinha!
No céu tão grácil, que palhaço de circo de periferia
Se torna esse bicho enxovalhado com brasa de cachimbo!
Já outro o moqueia imitando-o em sua pantomima!
O poeta é um tipo de príncipe do espaço sideral
Que brinca com a tempestade e se ri do arqueiro que o mira.
Porém, preso ao chão, em meio às galinhas de quintal,
Arrasta as asas pensas sem nenhuma serventia.
Não entendo nada de francês, mas gostei mais da sua tradução. Os Albatrozes sofrem muito com os métodos de pesca utilizados para atum e outros peixes (pesca de espinhéu), morrem milhares destas aves por ano!
ResponderExcluirPobre língua francesa, melodicamente perfeita... Soprei les planches; ailes blanches _ sem compreende-lá. Natureza imperfeita esta minha, de homem com pouca destreza na língua, entretanto, sem qualquer espanto, leio e releio os versos bem delineados na verve de Almeida, e primorosamente melhor descritos e bem acabados pela competência de JeosaFá. Um brinde a poética. Aplausos .
ResponderExcluirPrezado Sandro: Que bom que tenha gostado. A poesia, todos sabem, é intraduzível, de maneira que todo mundo pode traduzir como quiser. Nem sempre a gente é feliz na tradução, às vezes, acontece. Abs. do Jeosa.
ExcluirVIA FACEBOOK: João Paulo Naves Fernandes:
ResponderExcluirTraduções muito diferentes. Fico com a primeira.
Aí, é covardia, né João! Até eu fico com a primeira k k k k k
ExcluirSou suspeito no caso: sempre me irritou certo artificialismo nas traduções de Guilherme - como nas minhas próprias.
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