DAQUI A CINCO MIL ANOS um pai contará para seu filho dormir
a lenda de um herói. Essa lenda dirá de um menino do Transkei, que calçou o
primeiro par de sapatos quando ingressou um tanto tardiamente na escola, que
viu e viveu os piores tormentos da vida humana, mas que, a despeito de todas as
previsões funestas, liderou seu povo em uma saga épica e o conduziu uma vitória
gloriosa sobre as mais abomináveis formas de opressão e humilhação do homem
sobre o próprio homem. Essa lenda que atravessará os milênios futuros terá um
nome: NELSON RALIHLAHLA MANDELA.
quinta-feira, 28 de março de 2013
O jovem Mandela
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sexta-feira, 1 de março de 2013
La Bohème, tradução livre, comme ci comme ça
Para dois pintores: meu irmão Di-Grego e para a amiga Mazé Leite
Eu falo de um tempo que os de menos de vinte anos não podem nem
sonhar como foi. Mont Martre nessa época era um paraíso de lilases estendidos
sob a janela da nossa quitinete, e se o que a gente pagava, sempre atrasado,
por esse quarto minúsculo fosse ainda um absurdo, foi lá que a gente se
conheceu, eu, sonhador de barriga vazia e você, que posava para meus retratos a
óleo vestida só com água de colônia.
Ah, boêmia! A boêmia a nos gozar: vocês são uns sortudos!
Ah, boêmia, nós não comíamos mais do que uma vez a cada dois dias!
No café do lado éramos uns bêbados em busca da glória, só gente muito
vulgar corre atrás da grana o tempo todo. Embora uns pés rapados, o estômago a
roncar de fome, não perdíamos a esperança na vitória da arte. E, nossa, isso às
vezes acontecia!, quando em um restaurante chulé ficávamos diante de um prato
quente e suculento de comida comprado com a venda de um mísero quadro, em vez
de rezar antes de comer, nós recitávamos versos dos nossos amigos poetas, que
ambulavam pelas ruelas vendendo seus livretes de mão em mão. Ah, boêmia
Ah, boêmia! A boêmia a dizer: você é tão linda...
Ah, boêmia, éramos todos santamente geniais!
A coisa mais comum do mundo era, diante de meu cavalete, passar a noite
em claro retocando o desenho de um seio, o esboço de um quadril. E quando, não
antes de clarear a manhã, exausto e exultante até a última fibra de meu ser, me
sentava na banqueta de um bar infecto-contagioso diante de um café com
chantily, tinha que reconhecer: como a gente se amava! como a gente amava a
vida! Não só eu e você: toda nossa geração!
Ah, boêmia! A boêmia a dizer: Vivam, seus putos, você têm vinte anos,
garai!
Ah, boemia, vivíamos de corpo e alma o clima febril daqueles dias!
Hoje, quando por distração, batendo pernas por Paris, vou parar pelos
lados de nosso antigo endereço, não reconheço mais nem as paredes das casas,
nem a rua onde ficou nossa juventude. Do alto das escadarias eu busco com os
olhos míopes por sobre os telhados o nosso belo "ateliê", do qual
nada sobrou. Com sua paisagem "reurbanizada", Mont Marte ficou
triste, com ares de shopping center. Meu bem, continuo, só, te amando, mas
nossos lilases, ó dor, não sobrou nada deles também.
Ah, boêmia! A boêmia a dizer: quando se é jovem, é santa a loucura.
Ah, boêmia, você estava coberta de razão!
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