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Ator Ian Mckellen, o Ricardo III do filme homônimo de Richard Loncraine. |
Não
sou pessimista, pois sei que estes dias sombrios e de maus presságios vazarão
para as artes, entre elas o teatro, e permanecerão não como assombrações para
gerações futuras, mas como memórias para reflexão de maus dias, que convém não
esquecer para que não retornem na forma de pesadelos.
Na linguagem, sons, partes de palavras,
palavras, frases, orações se articulam (na língua escrita) em parágrafos,
capítulos etc. e dão origem aos gêneros textuais ou literários, entre os quais
o teatro.
Diferentemente da objetividade dos textos
informativos, a linguagem do teatro se organiza inteiramente na esfera da
subjetividade.
Se a linguagem objetiva busca o equilíbrio, no teatro exagero não só é válido como é o mais frequente, no drama, como na tragédia ou na comédia, isso porque as emoções humanas literalmente sobem ao palco e entram em cena.
Se a linguagem objetiva busca o equilíbrio, no teatro exagero não só é válido como é o mais frequente, no drama, como na tragédia ou na comédia, isso porque as emoções humanas literalmente sobem ao palco e entram em cena.
No teatro, todos os fantasmas, medos e
emoções ganham espaço por meio dos diálogos, em que sonhos, mas também
pesadelos; fatos plenos solidariedade, mas também de cobiça, inveja, trapaça e
ódio são representados em linguagem organizada para emocionar, surpreender,
assustar, fazer rir, chorar ou refletir.
Antes do cinema, foi o teatro o
responsável por tornar consciente de maneira coletiva a alma humana, com suas
grandezas e baixezas. Antes de gritar "Meu reino por um cavalo",
Ricardo III, de William Shakespeare, já assassinou no palco o irmão, obrigou a
cunhada a desposá-lo e usurpou a coroa e o trono, numa das representações mais
contundentes da degradação a que chegou a Inglaterra em um de seus períodos
menos gloriosos.
Quem desejar conhecer de maneira mais
objetiva essa fase transtornada da monarquia britânica, precisa mergulhar nos
compêndios de história. Porém a verdade é que Ricardo III é mais conhecido no
mundo inteiro pelas mãos de Shakespeare do que pelos textos acadêmicos, e é por
essa via que ele chegou ao cinema no século XX em várias versões.
Se não fosse o dramaturgo inglês, Ricardo
III estaria definitivamente morto para as gerações futuras, e sua múmia
simbólica, confinada em algum sarcófago acadêmico empoeirado, seria
objeto de estudo de uns poucos historiadores ou arqueólogos excêntricos.
Não sou pessimista, pois sei que estes dias sombrios e de maus presságios vazarão para as artes, entre elas o teatro, e permanecerão não como assombrações para gerações futuras, mas como memórias para reflexão de maus dias, que convém não esquecer para que não retornem na forma de pesadelos.

Jeosafá, professor, foi da equipe do 1o, ENEM, em 1998, e membro da banca de redação desse Exame em anos posteriores. Compôs também bancas de correção das redações da FUVEST nas décadas de 1990 e 2000. Foi consultor da Fundação Carlos Vanzolini da USP, na área de Currículo e nos programas Apoio ao Saber e Leituras do Professor da Secretaria de Educação de São Paulo. É escritor e professor Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Autor de mais de 50 títulos por diversas editoras, lançou em 2013 O jovem Mandela (Editora Nova Alexandria); em maio de 2015, nos 90 anos de Malcolm X, O jovem Malcolm X, pela mesma editora; no mesmo ano publicou A lenda do belo Pecopin da bela Bauldour, tradução do francês e adaptação para HQ do clássico de Victor Hugo, pela editora Mercuryo Jovem. Leciona atualmente para o a Educação Básica e para o Ensino Superior privados.