segunda-feira, 12 de abril de 2010

Prometeu, de Ésquilo e Alceste, de Eurípedes

Luiz Antonio Aguiar, adpatação

Nesta edição, duas peças do teatro clássico grego são oferecidas num só volume, com adaptação de Luiz Antonio Aguiar.

A linguagem adotada nas adaptações dos textos das duas peças possibilita uma leitura fluída, ainda que o leitor seja um adolescente penetrando pela primeira vez no mundo da mitologia grega.

Além dos textos das peças, o livro oferece ainda uma “Apresentação”, na qual são esclarecidos os propósitos da edição; uma “Introdução”, antecedendo o texto de cada uma das peças; “Posfáscios” sucintos e de grande valia para o entendimento dos mitos gregos envolvidos nos dramas representados; e, ao final do volume, um texto “Para discussão e aprofundamento”, que orienta uma leitura mais detalhada.

No texto da primeira peça, de Ésquilo, está em jogo o mito de Prometeu que, desafiando Zeus, por amor à humanidade, rouba o fogo reservado apenas aos deuses e o entrega aos homens, os quais, a partir de então, passam a criar e a realizar descobertas, do que antes estivam privados.

A postura insolente e rebelde de Prometeu enfurecerá Zeus, que não terá piedade em reservar a ele os piores suplícios. Prometeu, dotado dos dons da profecia, antes de cometer o crime contra o Olimpo já sabia o que lhe esperava. Ainda assim, não hesitou em favor dos mortais, a quem tanto amava:

Prometeu: (...) Mas aconteceu que olhei aquela raça de brutos sobre a Terra e pretendi que tivessem inteligência, espírito, poder de criar... Então, dei a ela o fogo, que era a propriedade exclusiva dos deuses, e com este a espécie humana terá a chance de realizar grandes obras. Por isso, Zeus enfureceu-se comigo e aqui estou, em desgraça!
Ninfas: Pobre de você, Prometeu! Pobre de você! Mas este foi o seu crime? Só isso?

Prometeu: Acham pouco? Graças a mim, os homens se apegaram à vida. Alguns, pelo conhecimento, até mesmo perderam o medo da morte. E inventaram a dignidade, a liberdade e tantos outros valores. Compreendem o que isso significa em relação ao poder absoluto pretendido por Zeus?
Ninfas: Quer dizer que eles não vagam mais pela Terra com a mente obscurecida? Que não são mais apenas dominados pelos seus instintos, como os animais, mas que contemplam o firmamento, agora, acima deles, e a imaginam como poderão alcançá-lo, se em atos, palavras ou sonhos?
Prometeu: Isso mesmo! O fogo se acendeu em seus espíritos. Eles escreverão livros, conhecerão os astros, descobrirão segredos da criação!”

Na segunda peça do livro, estão em jogo a vida e a morte – cujo mundo é governado por Hades. Nesta peça de Eurípedes, Admeto é um soberano velho e justo, mas que precisa ser levado por Caronte, o barqueiro que transporta os mortos para sua derradeira morada sob a terra.

Por intervenção de Apolo, as Parcas concedem que outro seja levado em seu lugar, porém somente Alceste, jovem esposa de Admeto, aceita a permuta. O texto se inicia com Apolo expondo o dilema e resistindo a entregar a jovem Alceste:

Morte: Ora, Apolo, deus iluminado! Salve! Mas o que você está fazendo na entrada deste palácio? Por acaso, pretende opor-se aos privilégios das divindades infernais? Já não chega ter enganado as Parcas, com esses seus truques, e impedido que eu arrebatasse Admeto? E agora, o que você pretende? Evitar que eu leve para Hades a filha de Pelias, que se sacrifcou no lugar de seu esposo?

Apolo: Tenho direto de fazer o que faço. E muito boas razões, também, para tanto.”

O contado do estudante e do professor com essas duas pérolas da cultura ocidental acrescenta qualidade à formação de ambos, porém confere ao segundo, além disso, a oportunidade de guiar suas turmas por caminhos inusitados, cheios de magias, mitos e forças titânicas que, na verdade, estão dentro de todos nós.

Uma vez lidas coletivamente, de forma dramatizada, e, melhor ainda, encenadas, essas peças entram no intelecto, na alma e no coração dos estudantes de maneira irresistível, passando a constituir um patrimônio, uma bagagem cultural de valor incalculável, porque definitiva.

FONTE: Aguiar, Luiz Antonio. Prometeu / Ésquilo; Alceste / Eurípedes. Adap. Luiz Antonio Aguiar. Rio de Janeiro. Ed. DIFEL, 2009.



LANÇAMENTO
Era uma vez no meu Bairro
ZONA NORTE – Nova Edição
ZONA LESTE – Inédito
Dia 18 de outubro de 2011
19:30h
Livraria do Espaço Unibanco de Cinema da Rua Augusta
SÃO PAULO - SP

O Tartufo, de Molière

Trad. Jean Melville

Esta edição da obra O tartufo ou O impostor, de Molière traz, além da tradução de Jean Melville:
  • Um proveitoso Prefácio, “A história do livro”, no qual, em palavras claras e precisas, a evolução da indústria do livro é tratada de forma objetiva e interessante;
  • Uma elucidativa Introdução à obra de Molière, “Molière, gênio da literatura francesa e universal”, com importantes informações biográficas e literárias sobre o autor e sua obra;
  • Um breve, mas providencial ensaio “A gênese da comédia Tartufo”, no qual o estudioso Robert Jouanny situa a obra no panorama cultural da época;
  • Uma resenha, a título de prefácio à peça, que traça o caminho dificultoso percorrido por ela contra a censura, até atingir o sucesso que a situou entre as mais importantes do teatro mundial;
  • Três petições escritas pelo próprio Molière em defesa da peça e solicitando ao Rei o fim da censura a sua obra;
  • Notas de rodapé bastante proveitosas para o aluno que inicia seu contato com o texto teatral;
  • Um breve perfil biográfico do autor;
  • Ao final, uma cronologia alentada que situa historicamente o autor em seu século e a obra no âmbito da biografia do autor.
Por si só, a peça traduzida já é digna de circular na escola, todavia, os acréscimos que a acompanham nesta edição permitem que os leitores, alunos e professores, assimilem o contexto histórico e artístico que serviram de placenta dessa obra prima da comédia francesa e mundial, cujo autor, literalmente, morreu fazendo o público dobrar-se de rir:

“... em fevereiro de 1673, já tuberculoso e incurável, Molière tem um ataque de hemoptise em cena aberta, ao representar o papel principal de O doente imaginário.

O público imagina tratar-se de mais uma interpretação brilhante do ator e não mede o riso. Assim, enquanto Molière se curva de sofrimento e perde sangue pela boca, a platéia aplaude estrondosamente.

O pano cai e o comediante é levado, moribundo, para sua casa, onde Armande, a esposa que o abandonara anos antes, fecha-lhe os olhos para sempre.”

A trama desta comédia envolve Orgon, sua família e o próprio Tartufo, beato convidado pelo dono da casa a nela instalar-se. As manhas e artimanhas do beato, que de puro não tem nada, enredam Orgon a tal ponto que este, completamente refém dos enganos e da lábia outro, passa a própria residência para nome do espertalhão.

As coisas se ajeitam ao final, como era do espírito de Molière fazer, porém, a crítica aos costumes medianos, ao pensamento obtuso e à fé cega está feita de modo contundente e hilário.

É por essa razão que Molière precisou percorrer uma verdadeira via crucis para desinterditar a censura interposta pelos conservadores da época, expostos e espicaçados pelo teor viperino dos diálogos que, quanto mais faziam rir, mais incriminavam a hipocrisia e o falso moralismo vigente.
Os diálogos e cenas são tão vivos que podemos, ao ler, montá-los mentalmente e desfrutar do inevitável prazer que o riso proporciona. Porém, na escola, pode-se, ao invés da montagem virtual na imaginação, realizar a encenação da peça integralmente.

Difícil? Tudo que é bom na vida deriva ou de sacrifício, ou de muito trabalho, ou muita luta. Noutras palavras, nada que é bom deriva do comodismo – ou ainda noutras, quem busca a facilidade não acha a felicidade, aqui, representada pelo riso.

Num trabalho mais planejado, a montagem da peça toda poderia ser executada pelos próprios alunos, sob orientação do professor. Porém, em sala, podem ser realizadas leituras dramáticas e montagem de pequenos trechos.

Essas leitura dramáticas e encenações permitem que sejam observados situações burlescas e detalhes ridículos, cujos efeitos talvez escapem à imaginação presa à leitura solitária.
Este é um caso em que só a tentativa já é garantia de muitíssimas gargalhadas. Quer apostar?

FONTE: Molière. O Tartufo ou O Impostor. Trad. Jean Melville. São Paulo. Ed. Martin Claret, 2005.


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O Inspetor Geral, de Nikolai Gógol


Trad. Gabor Aranyi

Esta comédia de Gógol, famosa e muito exibida pelo mundo todo, versa sobre visita sigilosa de um agente do governo que põe em polvorosa toda uma comunidade habituada a pequenos, médios e grandes embustes.

O medo de que esse inspetor descubra a muitas corrupções, das miúdas às graúdas, é exposto à crítica mordaz do riso, numa tradução que, por um lado, situa a linguagem no gosto popular, como a crítica enfatiza em relação ao original, sem fazer, contudo, o texto encaminhar-se para a comédia bufa, gênero teatral importante, mas do qual a peça em questão não se aproxima.

A comunidade, insegura tanto com relação à data da chegada do funcionário, quanto com relação à sua, do inspetor, identidade, explicita nos diálogos os pecados em risco de serem revelados e punidos, e se prepara para maquiar a realidade, de forma que tudo se apresente na mais completa ordem administrativa e legal ao enviado do Czar.

Pela ótica de seus pecados e de suas culpas, a comunidade de administradores locais acaba identificando erroneamente Ivan Aleksandrovitch Klestakov com o dito “auditor” do governo central. Porém, Aleksandrovitch é na realidade um funcionário público em viagem que, depenado de suas economias no jogo de cartas, está em dificuldades para quitar sua estadia no hotel em que se instalou.

A sucessão de enganos, trapalhadas, estratégias diversionistas para iludir o Inspetor – e de confissões a título de remissão de “pecadinhos à-toa” – conferem ao texto uma natureza cômica e acidamente crítica:

Ammos Fiodorovitch: Não vai ser nada fácil mudar isso. O coitado diz que, quando era bebê, a mãe deixou ele cair, e desde então tem esse cheiro.

Prefeito: Eu sei, eu sei, disse só por dizer. Mas o que o Andrei Ivanovitch em sua carta chama de pecadinhos à toa – permitam-me que não fale sobre isso. Além do mais, é estranho lembrar logo de pecado, pois não existe gente sem fraquezas. O próprio Senhor nos criou assim – até mesmo os voltairianos vociferam contra isso em vão.

Ammos Fiodorovitch: O que o senhor chama de pecadinhos à-toa, Anton Antonovitch? Existe uma boa diferença entre pecado e pecado. Eu confesso, abertamente, que não recuso um presente. Mas que presente? Filhotes de Galgo. Nem merece menção.

Prefeito: Filhote de galgo ou outra coisa qualquer: não deixa de ser um presente.

Ammos Fiodorovitch: Tudo bem, tudo bem, Anton Antonovitch! Se alguém recebe um casaco de peles que vale pelo menos uns quinhentos rublos e a esposa um xale que vale pelo menos...

Prefeito: E daí? O senhor acha que ser subornado com um filhote de galgo é um assunto menos sujo, quando nem mesmo acredita em Deus?! Nem mesmo vai a igreja! Eu, pelo menos, tenho firmeza na minha fé: todo domingo estou lá sentado no banco! Mas e o senhor? Eu conheço bem o senhor! Quando começa a falar da criação do mundo eu fico com os cabelos em pé!”

Esta edição conta ainda, ao final do volume, com os seguintes textos: “Excerto de carta que o autor enviou a um escritor, logo após a estréia d’O Inspetor Geral”; “Advertência prévia aos que querem representar O Inspetor Geral corretamente”; “A luta de Gógol pela comédia Russa” e “Notas”.

Esses textos são contribuições orientadoras que o leitor não deve desprezar, pois projetam luzes sobre a peça, sobre o autor, e sobre as particularidades relacionadas à montagem do espetáculo que, encenado na escola integralmente ou com adaptações à realidade brasileira ou escolar, oferecerá saborosas lições de riso.

FONTE: Gógol, Nikolai. O Inspetor Geral. Trad. Gabor Aranyi. São Paulo. Ed. Veredeas, 2008.