sexta-feira, 18 de abril de 2014

Gabo está fugindo para Macondo: ferroviários do mundo, parem imediatamente todos os trens!

Há coisa dois anos, em julho de 2012, assisti tomado de profunda melancolia a crônica de Éric Nepomuceno na televisão. Essa crônica depois ganhou as páginas impressas e digitais, numa delas sob o título Lembrando da memória de García Márquez.

Éric é amigo de García Márquez, e a maneira contida mas emocionada por meio da qual deu-nos em forma de crônica a notícia infausta, fizeram brotar de meus olhos as lágrimas amargas de Macondo: Gabo estava perdendo vertiginosamente a memória, e entrava em um processo irreversível de demência senil. Fui à cozinha tomar um copo d'água, matutando na profunda orfandade de que a América Latina se avizinhava.

Desde aquela crônica perdida num dia de julho de 2012, vim elaborando minha teoria sobre essa estranha morte gradual, anunciada nestes últimos dois anos pela imprensa, em capítulos algo barrocos e antecipatórios. E minha teoria se completou ontem, 17 de abril de 2014, quando os jornais informam o ponto final de Gabo.

E a minha teoria é simples, coerente e completamente defensável. Segundo ela García Márquez foi escrevendo secretamente um capítulo novo para Cem anos de solidão. Nesse capítulo, ele engana a todos com a notícia de sua própria morte e, marotamente embarca para Macondo.

O vazamento paulatino de sua perda de memória e de sua morte gradual - tão pacificamente aceitas -, na imprensa latino-americana, e desta para o mundo, faz parte do enredo labiríntico que ele mesmo criou para despistar sua verdadeira intenção: a de rumar de trem (levando consigo montanhas de ouro de nossa juventude e de nossa fantasia),  anonimamente, para o centro de sua geografia de sonhos, da qual só retornará, também anonimamente, quando quiser, se quiser.

Diante de uma evidência assim cristalina, não resta outra alternativa a nós, a não ser a de tomar uma atitude de força: impedir a partida desse trem para Macondo.

Gabo, lamentamos nossa profunda discordância com esse último capítulo de Cem anos de solidão, e estamos partindo atropeladamente atrás de você, onde quer que você esteja.

Ferroviários do mundo, parem imediatamente todos os trens!

terça-feira, 15 de abril de 2014

Bar Saci dá o maior pé!

O João Fitzgerald Marques, coordenador do Clube de Leitura da Biblioteca Monteiro Lobato, me convidou semana passada para um sarau em Caieiras, cujo release reproduzo parcialmente:

Neste mês vai ter um bate-papo sobre Cultura e Literatura com Jeosafá Fernandez Gonçalves; apresentações musicais de Adélia Ferreira Neves e seus alunos, ao piano; apresentação de trecho da peça de teatro "Cantora Careca", de Eugène Ionesco, com Sérgio Camargo e Luciane Massaro; e show com o saxofonista Edson Lellis.

 Desde julho do ano passado, um grupo de artistas, professores, jornalistas e profissionais da área da saúde, na sua maioria, moradores de Caieiras e região, vêm se reunindo, mensalmente, para promover um Sarau Cultural na cidade. No final do ano esse evento foi transformado em projeto e aprovado pelo PROAC - Programa de Ação Cultural, assim, a temporada 2014 do Sarau Cultural de Caieiras, que começa em fevereiro, terá o apoio deste programa de incentivo à cultura do Governo do Estado de São Paulo.

Bar Saci

Além das apresentações artísticas, o espaço conta com um bar, o Bar Saci. Coordenado pela Associação Vida em Ação, esse bar tem o objetivo de buscar alternativas de geração de trabalho e renda para os usuários dos serviços públicos de saúde mental, e também de fomentar ações de apoio ao tratamento.   

 Grande final

As datas de todos os encontros deste ano já estão marcadas e os próximos acontecerão nos dias 8 de março, 12 de abril, 17 de maio, 14 de junho e 12 de julho. Os trabalhos apresentados em todos os encontros serão avaliados tecnicamente pelos artistas coordenadores e os selecionados serão convidados para o sarau do dia 16 de agosto, quando acontecerá o ensaio para a apresentação final, no dia 13 setembro, que será no NEC - Núcleo Educacional de Caieiras, gentilmente cedido pela Secretaria Municipal de Educação. No total serão oito saraus. Haverá na semana da apresentação final uma exposição pública dos poemas e fotos selecionados.  

Os encontros do Sarau Cultural de Caieiras são mensais e acontecem sempre aos sábados no Espaço Cultural Porco à pá (Pourquoi pas?), que fica na avenida Olindo Dártora, 4560, Morro Grande, Caieiras, SP.

O João estava certo em me convidar, pois foi uma noite muito bacana. Além de declamações de poemas e bate-papo/entrevista sobre a linguagem poética, houve improvisos de sax da melhor qualidade, interpretações de MPB, teatro e muito compartilhamento.

Tem havido uma mobilização espontânea e em grande quantidade em torno da literatura na capital e na Grande São Paulo. É animador saber que, por todo lado, as pessoas, das mais diversas idades (grupos de jovens, grupos de idosos, grupos mistos, de professores, de profissionais diversos) tem-se se organizado para ler trechos de clássicos da literatura ou de novos autores, para declamar Bandeira ou Drummond, mas também poemas de autoria própria.

Tenho estado exausto, de tantos lugares aos quais tenho sido convidado a falar ou a ouvir (ou ambos). A caminho de Caieira, dois amigos me ligaram no celular: um, para avisar de uma apresentação nesta semana, outro, para me lembrar que estava sendo lançado, naquele exato momento, na Penha, um livro de autores da Zona Leste (como não era possível minha ida, fui informado que o mesmo livro será lançado em Ermelino Matarazzo no final do mês).

Minha gente, a cidade e a grande São Paulo está pulsando! E é pulsação do bem!