segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ricardo III, de Willian Shakespeare



Luiz Antonio Aguiar, adaptação


Ricardo de Gloster (Gloucester), de Willian Shakespeare, personifica tudo de perverso a que a ambição ilimitada pelo poder é capaz de conduzir, principalmente quando ela fermenta, borbulha e eclode em um espírito atormentado, ressentido e despido de qualquer senso de moral:

“Ricardo: Você conhece alguém a quem a corrupção do ouro seria uma tentação para executar secretamente um assassinato?

Pajem: Meu senhor, conheço um nobre descontente com a vida porque seus pobres recursos não correspondem à altivez de seu espírito. O ouro, para ele, vale tanto quanto vinte oradores e, sem dúvida, o tentaria a fazer qualquer coisa.

Ricardo: E qual o nome dele?

Pajem: Tyrrel, meu senhor.

Ricardo: Conheço alguma coisa dele. Vá, pajem. Traga esse homem aqui. [Sai o pajem]. O sábio Buckingham, homem de tão profundas considerações de consciência, não será mais aquele de quem tomo conselhos. Então, veio até este ponto comigo, e agora para para respirar? Bem, que seja! Casteby, aproxime-se. Espalhe o boato de que Ana, minha esposa, está gravemente enferma. Vou ordenar que ela fique isolada. Além disso, descubra para mim algum nobre ambicioso e de pouca projeção, com quem irei casar imediatamente a filha de Clarence... O garoto é um idiota. Não tenho por que temê-lo. Atenção! O que houve? Está sonhando acordado? Repito, espalhe por aí que Ana, minha rainha, está doente, quase morrendo. Aja depressa. Preciso acabar logo com todas as esperanças de me prejudicarem, antes que cresçam. [Sai Catesby]. Devo me casar com a filha do meu irmão Eduardo porque, de outro modo, meu reinado repousará sobre uma lâmina de vidro. Vou matar seus irmãos e depois me casar com ela. É um caminho tortuoso para o triunfo! Mas estou tão afundado no sangue que um pecado leva a outro e não tenho lágrimas de piedade para derramar.”

Ricardo de Gloster, já empossado Ricardo III, explicita aqui seus planos já depois de ter assassinado o rei Eduardo IV, seu irmão, esposo da mesma Ana a quem desposou e de quem pretende se livrar, e Clarence, seu outro irmão, que o tinha por aliado.

Para Ricardo de Gloster não há impedimento de ordem política, religiosa, ética ou moral que o impeça de atingir aquilo a que almeja. É invejoso, cruel, cínico, hipócrita, caviloso, manipulador e astucioso em mover as vaidades, ambições e falta de escrúpulos alheios em favor de suas próprias pretensões:

“Ricardo: Eu, de aparência tão desagradável, destituído da formosura necessária para agradar às jovens de andar gracioso. Eu, disforme, traído pela natureza, posto no mundo antes da hora, inacabado e tão horrendo que os cães ladram à minha passagem, não aprecio a beleza nem os prazeres desses dias. E, se o sol, para mim, não faz mais do que exibir a mim mesmo minha sombra deformada, o que me resta é odiar esse tempo de fraqueza e de paz. Assim, sou o vilão, aquele que trama e conspira. E uso tudo o que posso: argumentos falsos, calúnias, sonhos, profecias tresloucadas, o que seja, para induzir perigosamente ao engano. Para gerar o ódio que leva ao assassinato.”

A presente edição, além do texto adaptado com grande felicidade, oferece para o leitor: uma “Apresentação”, uma “Introdução”, um “Posfácio” e tópicos, ao final, “Para Discussão e Aprofundamento” muito convenientes, pois situam o contexto histórico e artístico desse drama shakespeariano e orientam uma leitura mais detida da peça.

Realizar leituras dramáticas desse texto teatral consiste em um desafio tentador para professores e alunos. Porém, se seguirmos o conselho de Oscar Wilde, devemos resistir a tudo, menos às tentações.

Encená-la na escola, então, é um ato de desprendimento intelectual e espiritual sem tamanho, pois enfrentar, ainda que seja no palco, o sanguinário e inescrupuloso Ricardo de Gloster é tarefa que exige, além de técnica, coragem.

FONTE: Aguiar, Luiz Antonio. Ricardo III / Willian Shakspeare. Adap. Luiz Antonio Aguiar. Rio de Janeiro. Ed. DIFEL, 2009.

Prometeu, de Ésquilo e Alceste, de Eurípedes

Luiz Antonio Aguiar, adpatação

Nesta edição, duas peças do teatro clássico grego são oferecidas num só volume, com adaptação de Luiz Antonio Aguiar.

A linguagem adotada nas adaptações dos textos das duas peças possibilita uma leitura fluída, ainda que o leitor seja um adolescente penetrando pela primeira vez no mundo da mitologia grega.

Além dos textos das peças, o livro oferece ainda uma “Apresentação”, na qual são esclarecidos os propósitos da edição; uma “Introdução”, antecedendo o texto de cada uma das peças; “Posfáscios” sucintos e de grande valia para o entendimento dos mitos gregos envolvidos nos dramas representados; e, ao final do volume, um texto “Para discussão e aprofundamento”, que orienta uma leitura mais detalhada.

No texto da primeira peça, de Ésquilo, está em jogo o mito de Prometeu que, desafiando Zeus, por amor à humanidade, rouba o fogo reservado apenas aos deuses e o entrega aos homens, os quais, a partir de então, passam a criar e a realizar descobertas, do que antes estivam privados.

A postura insolente e rebelde de Prometeu enfurecerá Zeus, que não terá piedade em reservar a ele os piores suplícios. Prometeu, dotado dos dons da profecia, antes de cometer o crime contra o Olimpo já sabia o que lhe esperava. Ainda assim, não hesitou em favor dos mortais, a quem tanto amava:

Prometeu: (...) Mas aconteceu que olhei aquela raça de brutos sobre a Terra e pretendi que tivessem inteligência, espírito, poder de criar... Então, dei a ela o fogo, que era a propriedade exclusiva dos deuses, e com este a espécie humana terá a chance de realizar grandes obras. Por isso, Zeus enfureceu-se comigo e aqui estou, em desgraça!
Ninfas: Pobre de você, Prometeu! Pobre de você! Mas este foi o seu crime? Só isso?

Prometeu: Acham pouco? Graças a mim, os homens se apegaram à vida. Alguns, pelo conhecimento, até mesmo perderam o medo da morte. E inventaram a dignidade, a liberdade e tantos outros valores. Compreendem o que isso significa em relação ao poder absoluto pretendido por Zeus?
Ninfas: Quer dizer que eles não vagam mais pela Terra com a mente obscurecida? Que não são mais apenas dominados pelos seus instintos, como os animais, mas que contemplam o firmamento, agora, acima deles, e a imaginam como poderão alcançá-lo, se em atos, palavras ou sonhos?
Prometeu: Isso mesmo! O fogo se acendeu em seus espíritos. Eles escreverão livros, conhecerão os astros, descobrirão segredos da criação!”

Na segunda peça do livro, estão em jogo a vida e a morte – cujo mundo é governado por Hades. Nesta peça de Eurípedes, Admeto é um soberano velho e justo, mas que precisa ser levado por Caronte, o barqueiro que transporta os mortos para sua derradeira morada sob a terra.

Por intervenção de Apolo, as Parcas concedem que outro seja levado em seu lugar, porém somente Alceste, jovem esposa de Admeto, aceita a permuta. O texto se inicia com Apolo expondo o dilema e resistindo a entregar a jovem Alceste:

Morte: Ora, Apolo, deus iluminado! Salve! Mas o que você está fazendo na entrada deste palácio? Por acaso, pretende opor-se aos privilégios das divindades infernais? Já não chega ter enganado as Parcas, com esses seus truques, e impedido que eu arrebatasse Admeto? E agora, o que você pretende? Evitar que eu leve para Hades a filha de Pelias, que se sacrifcou no lugar de seu esposo?

Apolo: Tenho direto de fazer o que faço. E muito boas razões, também, para tanto.”

O contado do estudante e do professor com essas duas pérolas da cultura ocidental acrescenta qualidade à formação de ambos, porém confere ao segundo, além disso, a oportunidade de guiar suas turmas por caminhos inusitados, cheios de magias, mitos e forças titânicas que, na verdade, estão dentro de todos nós.

Uma vez lidas coletivamente, de forma dramatizada, e, melhor ainda, encenadas, essas peças entram no intelecto, na alma e no coração dos estudantes de maneira irresistível, passando a constituir um patrimônio, uma bagagem cultural de valor incalculável, porque definitiva.

FONTE: Aguiar, Luiz Antonio. Prometeu / Ésquilo; Alceste / Eurípedes. Adap. Luiz Antonio Aguiar. Rio de Janeiro. Ed. DIFEL, 2009.



LANÇAMENTO
Era uma vez no meu Bairro
ZONA NORTE – Nova Edição
ZONA LESTE – Inédito
Dia 18 de outubro de 2011
19:30h
Livraria do Espaço Unibanco de Cinema da Rua Augusta
SÃO PAULO - SP

O Tartufo, de Molière

Trad. Jean Melville

Esta edição da obra O tartufo ou O impostor, de Molière traz, além da tradução de Jean Melville:
  • Um proveitoso Prefácio, “A história do livro”, no qual, em palavras claras e precisas, a evolução da indústria do livro é tratada de forma objetiva e interessante;
  • Uma elucidativa Introdução à obra de Molière, “Molière, gênio da literatura francesa e universal”, com importantes informações biográficas e literárias sobre o autor e sua obra;
  • Um breve, mas providencial ensaio “A gênese da comédia Tartufo”, no qual o estudioso Robert Jouanny situa a obra no panorama cultural da época;
  • Uma resenha, a título de prefácio à peça, que traça o caminho dificultoso percorrido por ela contra a censura, até atingir o sucesso que a situou entre as mais importantes do teatro mundial;
  • Três petições escritas pelo próprio Molière em defesa da peça e solicitando ao Rei o fim da censura a sua obra;
  • Notas de rodapé bastante proveitosas para o aluno que inicia seu contato com o texto teatral;
  • Um breve perfil biográfico do autor;
  • Ao final, uma cronologia alentada que situa historicamente o autor em seu século e a obra no âmbito da biografia do autor.
Por si só, a peça traduzida já é digna de circular na escola, todavia, os acréscimos que a acompanham nesta edição permitem que os leitores, alunos e professores, assimilem o contexto histórico e artístico que serviram de placenta dessa obra prima da comédia francesa e mundial, cujo autor, literalmente, morreu fazendo o público dobrar-se de rir:

“... em fevereiro de 1673, já tuberculoso e incurável, Molière tem um ataque de hemoptise em cena aberta, ao representar o papel principal de O doente imaginário.

O público imagina tratar-se de mais uma interpretação brilhante do ator e não mede o riso. Assim, enquanto Molière se curva de sofrimento e perde sangue pela boca, a platéia aplaude estrondosamente.

O pano cai e o comediante é levado, moribundo, para sua casa, onde Armande, a esposa que o abandonara anos antes, fecha-lhe os olhos para sempre.”

A trama desta comédia envolve Orgon, sua família e o próprio Tartufo, beato convidado pelo dono da casa a nela instalar-se. As manhas e artimanhas do beato, que de puro não tem nada, enredam Orgon a tal ponto que este, completamente refém dos enganos e da lábia outro, passa a própria residência para nome do espertalhão.

As coisas se ajeitam ao final, como era do espírito de Molière fazer, porém, a crítica aos costumes medianos, ao pensamento obtuso e à fé cega está feita de modo contundente e hilário.

É por essa razão que Molière precisou percorrer uma verdadeira via crucis para desinterditar a censura interposta pelos conservadores da época, expostos e espicaçados pelo teor viperino dos diálogos que, quanto mais faziam rir, mais incriminavam a hipocrisia e o falso moralismo vigente.
Os diálogos e cenas são tão vivos que podemos, ao ler, montá-los mentalmente e desfrutar do inevitável prazer que o riso proporciona. Porém, na escola, pode-se, ao invés da montagem virtual na imaginação, realizar a encenação da peça integralmente.

Difícil? Tudo que é bom na vida deriva ou de sacrifício, ou de muito trabalho, ou muita luta. Noutras palavras, nada que é bom deriva do comodismo – ou ainda noutras, quem busca a facilidade não acha a felicidade, aqui, representada pelo riso.

Num trabalho mais planejado, a montagem da peça toda poderia ser executada pelos próprios alunos, sob orientação do professor. Porém, em sala, podem ser realizadas leituras dramáticas e montagem de pequenos trechos.

Essas leitura dramáticas e encenações permitem que sejam observados situações burlescas e detalhes ridículos, cujos efeitos talvez escapem à imaginação presa à leitura solitária.
Este é um caso em que só a tentativa já é garantia de muitíssimas gargalhadas. Quer apostar?

FONTE: Molière. O Tartufo ou O Impostor. Trad. Jean Melville. São Paulo. Ed. Martin Claret, 2005.


LANÇAMENTO
Era uma vez no meu Bairro
ZONA NORTE – Nova Edição
ZONA LESTE – Inédito
Dia 18 de outubro de 2011
19:30h
Livraria do Espaço Unibanco de Cinema da Rua Augusta
SÃO PAULO - SP